quinta-feira, 3 de maio de 2018

Líder histórico da oposição de Moçambique morre aos 65 anos

O veterano líder rebelde Afonso Dhlakama, chefe da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o maior partido de oposição de Moçambique, morreu aos 65 anos em seu refúgio na Floresta da Gorongosa, aparentemente depois de sofrer um ataque cardíaco, informou hoje a Agência France Presse (AFP).

A Resistência Nacional Moçambicana nasceu com nome inglês em 1976 na antiga Rodésia, hoje Zimbábue, na época governada por uma ditadura da minoria branca, como a vizinha África do Sul. Era uma aliança anticomunista sustentada pelos regime brancos do Sul da África e os conservadores nos Estados Unidos para combater o governo marxista da Frente da Libertação de Moçambique (Frelimo), aliada da União Soviética na Guerra Fria.

Para o ditador rodesiano Ian Smith, a preocupação era que a Frelimo desse refúgio aos guerrilheiros da União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU, em inglês), que chegaria ao poder em 1980 com Robert Mugabe. Ironicamente, o governo Margaret Thatcher chegou a apoiar a Frelimo porque o Reino Unido queria acabar com a ditadura de Ian Smith.

Dhlakama chegou a ser membro da Frelimo na luta pela independência, mas foi um dos fundadores da Renamo. Depois da morte em combate do primeiro presidente, André Maitsangaíssa, em 17 de outubro de 1979, Dhlakama assumiu o comando da luta armada contra o governo comunista da Frelimo.

A guerra civil moçambicana durou até 1992. Com o acordo de paz, garantido por uma força de paz das Nações Unidas com grande participação brasileira, Dhlakama disputou cinco eleições presidenciais e a Renamo, cinco eleições legislativas. Ficaram sempre em segundo lugar, atrás da Frelimo, que governa Moçambique até hoje. Seu melhor resultado foi 2.133.655 votos (47,7%), em 1999, quando perdeu para o então presidente Joaquim Chissano (1986-2005), com 2.338.888 votos (52,3%).

Como na África o chefe é o chefe, não pode ser segundo de ninguém, Dhlakama nunca aceitou ser vice-presidente ou líder da oposição na Assembleia Nacional, em Maputo. Viveu sempre em regiões onde a Renamo ganhava as eleições. Defendia um regime federativo onde a Renamo pudesse ter uma base de poder.

De tempos em tempos, a frágil trégua entre o eterno governo e a eterna oposição se rompeu. Em outubro de 2013, a Renamo rejeitou o acordo de paz de 1992. Houve combates esporádicos, mas não um conflito generalizado.

Um segundo acordo de paz foi acertado em setembro de 2014. A Frelimo deu à Renamo a chance de integrar seus homens às Forças Armadas, uma anistia ampla e maior acesso às finanças públicas. Mas não durou, Dhlakama não reconhecei a eleição de Filipe Nyusi e, em dezembro de 2014, ameaçou declarar a independência da República do Centro e Norte de Moçambique.

Em fevereiro de 2015, os dois negociaram a aprovação de uma lei para dar mais autonomia às províncias. O Parlamento rejeitou a proposta como inconstitucional em maio daquele ano.

A Renamo mantém seus redutos, como a Floresta de Gorongosa. A violência ocasional tende a continuar, prevê a empresa de consultoria e análise estratégica Stratfor.

Desde o acordo de paz, a Frelimo se concentrou no desenvolvimento da região da capital, Maputo, no Sul de Moçambique, que fica perto de Joanesburgo, a capital econômica da África do Sul, negligenciando o Centro e o Norte do país, onde estão as bases da Frelimo.

A partir da década passada, aumentou o interesse pelas regiões mais pobres por causa de suas jazidas de carvão e gás natural. A exploração do gás pelas empresas Anadarko, ENI e Statoil deve mobilizar investimentos de US$ 31 bilhões nos próximos cinco anos.

É uma quantia importante num país com produto interno bruto estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) US$ 12,345 bilhões no ano passado. Em duas décadas, o gás natural deve render US$ 37 bilhões a Moçambique e há potencial para novas descobertas.

Com esta riqueza, Moçambique deve se tornar uma economia baseada em hidrocarbonetos como Angola, segunda maior produtora de petróleo da África, depois da Nigéria. Como país litorâneo, os portos de Maputo, Beira e Nacala podem ser centros logísticos para o comércio exterior dos países sem saída para o mar.

Os recursos para um projeto de desenvolvimento capaz de fortalecer a unidade nacional estão dados. Ao mesmo tempo em que Moçambique crescia, a legitimidade do sistema eleitoral passou a ser contestada. Em 2009, o presidente Armando Guebuza ganhou um segundo mandato com 75% dos votos.

A seguir, houve uma mudança de gerações. Saíram os heróis da independência. O novo presidente, Filipe Nyusi, teve a eleição contestada por Dhlakama.

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