O Banco Central da Argentina surpreendeu hoje o mercado financeiro, elevando a taxa básica de juros pela terceira vez em uma semana para 40% ao ano para tentar conter a desvalorização do peso.
Sob o impacto da medida, a moeda argentina subiu 5% para 21,238 pesos por dólar, mas depois caiu 2,3% e chegou a 22,25 por dólar. A moeda americana terminou o dia valendo 22,17 pesos em Buenos Aires.
Várias economias em desenvolvimento estão sob pressão com a alta do dólar diante da expectativa de mais três altas na taxa básica de juros neste ano nos Estados Unidos: Argentina, Brasil, México, Polônia e Turquia, entre outras. Como aqui, o BC argentino entrou no mercado vendendo US$ 5 bilhões das reservas cambiais do país.
Desde o início do ano, o peso perdeu 15% do valor, o real 13% e a lira turca também caiu mais de 10%. Para o jornal inglês Financial Times, é o primeiro grande teste do mercado à política de reformas do presidente Mauricio Macri, eleito há dois anos e meio com a promessa de tornar a Argentina num país normal depois de 12 anos de governos de Néstor e Cristina Kirchner.
Néstor Kirchner (2003-7) chegou ao poder em meio a uma depressão econômica, depois do fim da dolarização da era Carlos Menem (1989-99), de uma megadesvalorização do peso e de todos os ativos e de um calote de US$ 100 bilhões na dívida do país.
A crise sem precedentes numa economia razoavelmente desenvolvida, superada agora pelo colapso econômico da Venezuela, jogou 58% dos argentinos para baixa da linha de pobreza e levou Kirchner a adotar uma série de subsídios a alimentos, transportes e energia.
Quando veio a Grande Recessão de 2008-9, no início do governo Cristina Kirchner (2007-15), com a escassez de dólares, a saída foi sobretaxar as exportações agrícolas, o que provocou uma greve de produtores rurais. A greve do campo esvaziou as prateleiras dos supermercados e afetou o comércio exterior de uma grande potência agrícola mundial.
Sem o apoio dos ruralistas, Cristina deu uma guinada à esquerda e manteve os subsídios para garantir o apoio de sua base política, sindicalista e peronista, aumentando com isso o déficit orçamentário e a dívida pública.
Hoje o ministro da Economia, Nicolás Dujovne, anunciou uma redução do superávit primário de 3,2% para 2,7% do produto interno bruto e defendeu a alta nos juros: "A convergência para o equilíbrio fiscal não é negociável", declarou, prometendo resistir às "pressões populistas".
Com a redução do superávit primário (saldo nas contas públicas sem computar o pagamento de juros), o governo da Argentina deixará de tomar emprestado US$ 3 bilhões e já garantiu os recursos para 80% de sua necessidade de financiamento em 2018.
Apesar dos problemas econômicos, Macri ainda tem o apoio de mais de 50% dos argentinos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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