Com a Itália e a Espanha, terceira e quarta maiores economia da Zona do Euro, em crise, a incerteza volta ao Sul da Europa, abalando o euro e as bolsas de valores do mundo inteiro.
Em Nova York, o Índice Dow Jones perdeu quase 400 pontos (-1,58%), na maior queda em dois anos. Tóquio caiu 1,78%. Em São Paulo, o Índice Bovespa subiu 0,95% com a recuperação da Petrobrás depois de forte baixa ontem.
No domingo, o primeiro-ministro indicado pelos partidos populistas que ganharam as eleições de 4 de março na Itália, Giuseppe Conte, desistiu de formar o novo governo porque o presidente Sergio Mattarella rejeitou a indicação de Paolo Savona para ministro da Economia, alegando que haveria risco de que a Itália deixe a união monetária europeia.
O temor do mercado é que o veto de Mattarella e a convocação de novas eleições acabem favorecendo o populista Movimento 5 Estrelas e a neofascista Liga, dois partidos ultranacionalistas que farão campanha atacando a União Europeia como uma instituição que tira a soberania da Itália.
As propostas do programa de governo do M5E e da Liga pretendm acabar com a austeridade fiscal, revogar as reformas para cortar gastos, inclusive da Previdência Social, renegociar a dívida pública de 2,351 trilhões de euros, equivalente a 132% do produto interno bruto, de US$ 1,938 bilhão no ano passado, e suspender as sanções à Rússia.
Na Espanha, o Parlamento começa a discutir na quinta-feira uma moção de desconfiança apresentada pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) contra o primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy depois da condenação de vários membros do Partido Popular (PP) no escândalo de corrupção conhecido como Caso Gürtel. O próprio partido foi multado em 245 mil euros.
"O tempo do PP acabou", afirmou o líder do PSOE, Pedro Sánchez, acusando Rajoy de ter posto em perigo a integridade social e territorial da Espanha e a credibilidade do país na UE, numa referência à tentativa de independência da Catalunha, quando apoiou Rajoy para evitar a divisão do país.
O partido de extrema esquerda Podemos, o terceiro maior da Espanha, apoia a moção de censura. O quarto maior, Cidadãos, liberal, de centro-direita, quer a antecipação das eleições porque sobe nas pesquisas com o declínio do PP, mas não apoia o voto de desconfiança, que fortaleceria Sánchez. Será uma votação apertada.
A Espanha corre o risco de ter uma terceira eleição indecisiva, com a fragmentação provocada pela ascensão de dois novos partidos, Podemos e Cidadãos, depois da Crise do Euro, em 2011, que levou o país a se submeter a um programa de ajuste fiscal imposto pela Zona do Euro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE). O resultado seria mais um governo fraco.
Naquela época, comentava-se que a Itália é uma economia grande demais, com uma dívida grandes demais para ser resgatada. O presidente indicou um tecnocrata, Carlo Cottarelli, para formar um governo técnico até as próximas eleições. O M5E e a Liga, que têm maioria, pretendem derrubá-lo imediatamente. A Itália pode ter novas eleições em agosto.
Em comum, os dois países tiveram seus partidos tradicionais destroçados pela crise econômica. As semelhanças param por aí. A Liga e o M5E são visceralmente antieuropeu. Vão acusar o presidente, a UE, a Alemanha e a França de barrar a vontade política do eleitorado italiano.
Na Espanha, as eleições serão travadas em torno da corrupção, dos gastos públicos e do movimento pela independência da Catalunha. Até o ultraesquerdista Podemos moderou o tom das críticas à UE e à moeda única. Lá, ao contrário da Itália, não rendem votos. Com um governo fraco, é improvável um avanço das reformas econômicas e a questão catalã vai se arrastar por muito tempo.
A Espanha apresenta uma boa recuperação econômica, com crescimento acima de 3% desde 2015. Na Itália, a retomada é mais modesta. Desde 2010, o pico foi 1,7%, mas a economia avançou nos últimos quatro anos.
Com parlamentos fragmentados e governos fracos, será difícil aprovar as reformas necessárias para sustentar um crescimento mais forte, aumentando o apelo de partidos populistas contrários às medidas de austeridade fiscal.
Por seu tamanho, a Itália representa um risco maior à Eurozona do que a Espanha, mas a crise da Grécia mostrou que mesmo um país pobre e periférico pode gerar problemas que se propagam com facilidade pelos membros do bloco europeu.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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