quinta-feira, 31 de maio de 2018

Protesto contra Ortega termina com 16 mortes na Nicarágua

A polícia e unidades paramilitares ligadas à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) atiraram contra uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas ontem em Manágua, a capital da Nicarágua. Pelo menos 16 pessoas morreram e 79 saíram feridas, informou o jornal El Nuevo Diario.

A repressão violenta à marcha em homenagem às mães das mortos nos protestos de abril deve ampliar o movimento. Se o presidente Daniel Ortega cair, as oposições de outros países em crise da América Central, Guatemala e Honduras, devem fazer novas manifestações contra seus governos.

Em abril, Ortega propôs cortes de pensões e aumento nas contribuições previdenciárias, deflagrando uma onda de protestos, levando o presidente a recuar e voltar atrás em 23 de abril, depois de 53 mortes atribuídas principalmente às forças de segurança e a paramilitares ligados ao regime.

A Igreja Católica organiza os protestos contra a violência do governo e o Exército relutava em continuar atacando a multidão revoltada. Diante do uso de força mortal pelo governo, os bispos nicaraguenses se negam a retomar o diálogo.

Por causa do aumento nos preços do petróleo, há 20 dias, motoristas de táxi, ônibus e caminhões aderiram ao movimento. Depois de duas semanas de relativa calma, os protestos voltaram com força em 11 de maio nas principais cidades nicaraguenses: Manágua, León, Granada, Chinandega e Masaya.

No dia 12, o Exército pediu diálogo e declarou que não participaria mais da repressão contra os manifestantes. O Conselho Superior da Iniciativa Privada, que representa a elite empresarial, inclusive muitos aliados de Ortega, também defendeu o diálogo.

A dúvida é se Ortega resiste até a eleição presidencial de 2021, quando poderia voltar a ser candidato com base numa reforma que acabou com a limitação dos mandatos.

Um dos nove comandantes da FSLN, que tomou o poder em 17 de julho de 1979, Daniel Ortega governou a Nicarágua até ser derrotado por Violeta Chamorro na eleição presidencial de 1990. Voltou em 2007, em aliança com a oligarquia somozista que um dia combatera e desde então tenta se eternizar no poder.

Em Honduras, houve uma onda de protestos depois da contestada reeleição do presidente Juan Orlando Hernández, em novembro de 2017. A situação se acalmou com a divisão interna da oposição com a disputa pela liderança entre o ex-presidente José Manuel Zelaya e o candidato presidencial no ano passado, Salvador Nasralla. O Exército sustenta o governo conservador.

Na Guatemala, uma onda de manifestações contra a corrupção levou à queda do presidente Otto Pérez Molina, em 2015. O atual presidente, Jimmy Morales, um ex-humorista que chegou ao poder fazendo campanha contra os políticos e partidos tradicionais, também é alvo de investigações da Comissão contra a Impunidade, um órgão criado pelas Nações Unidas que as elites polícias e empresarias guatemaltecas querem desautorizar, na contramão da opinião pública.

Se Ortega cair, talvez o furacão da mudança varra também os governos do norte e nordeste da América Central.

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