A polícia e unidades paramilitares ligadas à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) atiraram contra uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas ontem em Manágua, a capital da Nicarágua. Pelo menos 16 pessoas morreram e 79 saíram feridas, informou o jornal El Nuevo Diario.
A repressão violenta à marcha em homenagem às mães das mortos nos protestos de abril deve ampliar o movimento. Se o presidente Daniel Ortega cair, as oposições de outros países em crise da América Central, Guatemala e Honduras, devem fazer novas manifestações contra seus governos.
Em abril, Ortega propôs cortes de pensões e aumento nas contribuições previdenciárias, deflagrando uma onda de protestos, levando o presidente a recuar e voltar atrás em 23 de abril, depois de 53 mortes atribuídas principalmente às forças de segurança e a paramilitares ligados ao regime.
A Igreja Católica organiza os protestos contra a violência do governo e o Exército relutava em continuar atacando a multidão revoltada. Diante do uso de força mortal pelo governo, os bispos nicaraguenses se negam a retomar o diálogo.
Por causa do aumento nos preços do petróleo, há 20 dias, motoristas de táxi, ônibus e caminhões aderiram ao movimento. Depois de duas semanas de relativa calma, os protestos voltaram com força em 11 de maio nas principais cidades nicaraguenses: Manágua, León, Granada, Chinandega e Masaya.
No dia 12, o Exército pediu diálogo e declarou que não participaria mais da repressão contra os manifestantes. O Conselho Superior da Iniciativa Privada, que representa a elite empresarial, inclusive muitos aliados de Ortega, também defendeu o diálogo.
A dúvida é se Ortega resiste até a eleição presidencial de 2021, quando poderia voltar a ser candidato com base numa reforma que acabou com a limitação dos mandatos.
Um dos nove comandantes da FSLN, que tomou o poder em 17 de julho de 1979, Daniel Ortega governou a Nicarágua até ser derrotado por Violeta Chamorro na eleição presidencial de 1990. Voltou em 2007, em aliança com a oligarquia somozista que um dia combatera e desde então tenta se eternizar no poder.
Em Honduras, houve uma onda de protestos depois da contestada reeleição do presidente Juan Orlando Hernández, em novembro de 2017. A situação se acalmou com a divisão interna da oposição com a disputa pela liderança entre o ex-presidente José Manuel Zelaya e o candidato presidencial no ano passado, Salvador Nasralla. O Exército sustenta o governo conservador.
Na Guatemala, uma onda de manifestações contra a corrupção levou à queda do presidente Otto Pérez Molina, em 2015. O atual presidente, Jimmy Morales, um ex-humorista que chegou ao poder fazendo campanha contra os políticos e partidos tradicionais, também é alvo de investigações da Comissão contra a Impunidade, um órgão criado pelas Nações Unidas que as elites polícias e empresarias guatemaltecas querem desautorizar, na contramão da opinião pública.
Se Ortega cair, talvez o furacão da mudança varra também os governos do norte e nordeste da América Central.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 31 de maio de 2018
Protesto contra Ortega termina com 16 mortes na Nicarágua
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