Num momento de desaceleração do crescimento e dúvidas sobre a economia da China, o presidente Xi Jinping iniciou hoje sua viagem aos Estados Unidos por Seattle, onde jantou com líderes da grandes empresas americanas para mostrar que seu país é um parceiro fundamental no mundo globalizado.
Em Washington, onde será recebido quinta-feira em visita de Estado, Xi será pressionado pelo presidente Barack Obama por causa da espionagem cibernética e das disputas territoriais com países vizinhos no Mar do Sul da China.
"No momento, todas as economias estão enfrentando dificuldades e nossa economia também está sob pressão para baixo, mas isto é apenas um problema no curso do progresso. Tomaremos medidas coordenadas para atingir o crescimento estável", declarou o ditador chinês em discurso em Seattle em que deu "saudações e os melhores votos de mais de 1,3 bilhão de chineses".
Seu tom foi conciliador no melhor estilo chinês. Xi prometeu construir com os EUA "um novo modelo de relações entre grandes países sem conflito e sem confrontação", baseado "no respeito mútuo e na cooperação" benéfica para todos.
Entre os dirigentes empresariais que pagaram US$ 30 mil para jantar com Xi, estavam os líderes da Boeing, da Microsoft e da Starbucks, três megaempresas com sede em Seattle. O ex-secretário de Estado Henry Kissinger, que iniciou a reaproximação com a China em 1971, fez a apresentação do líder chinês.
Em poucos anos, a China deve ser a maior compradora de aviões da Boeing, um mercado que não pode ser desprezado. Nenhum estado americano exporta mais para a China do que Washington, onde Seattle é a maior cidade.
O objetivo dessa escala inicial é mostrar que a China ainda tem uma economia dinâmica, apesar da desaceleração do crescimento. Na última previsão oficial, a segunda maior economia do mundo deve avançar 6,9% em 2015, abaixo da meta de 7%.
Diante da inesperada desvalorização do iuane e da intervenção do regime comunista para sustentar as bolsas de valores da China, os economistas têm sérias razões para duvidar das declarações oficiais de que o crescimento está dentro do esperado.
Desde que o presidente Richard Nixon chegou à China num Boeing 707 em 1972, a China se tornou uma grande cliente da companhia. Nos próximos 20 anos, o mercado chinês deve comprar mais de 6 mil aviões novos. A Boeing quer aumentar sua fatia de mercado.
Outra empresa de Seattle, a cafeteria e lanchonete Starbucks, tem 1,8 mil lojas na China e pretende dobrar este número em quatro anos. Em atenção à cultura local, são mais cafeterias do que lanchonetes, muitas instaladas em grandes salões onde os chineses tomam chá, café ou refrigerantes, conversam e trabalham durante horas em seus computadores. Lá não existe a cultura de comprar e sair comendo ou comer depressa.
Xi Jinping é um dos principezinhos, os filhos dos heróis da revolução comunista liderada por Mao Tsé-tung que se tornaram dirigentes do partido e lutam para preservar o regime. Seu pai, Xi Zhongxun, general do Exército Popular de Libertação (ELP), visitou o Havaí em 1980, no início da abertura econômica chinesa, quando era governador da província de Cantão.
Em 1985, quando era um funcionário de província, Xi Jinping visitou Muscatine, no estado de Iowa, para conhecer a agricultura americana. Agora, chega a Washington como homem-forte da superpotência emergente no fim da tarde de 24 de setembro, quando o papa Francisco tiver deixado a capital dos EUA.
Os diplomatas chineses não queriam a concorrência do papa: "Ele é um popstar".
A saudação com 21 tiros de canhão nos jardins da Casa Branca criarão a pompa e a circunstância que Xi quer apresentar ao povo chinês para posar como grande líder. Nas questões de Estado substantivas, a ciberpirataria, a nova lei de segurança nacional chinesa e as disputas de mar territorial da China com países vizinhos, não deve haver avanço.
O dirigente máximo do regime comunista chinês é um burocrata do partido que lançou a maior campanha anticorrupção desde a Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76) para afastar inimigos, garantir o controle sobre o Exército popular de libertação e consolidar o poder.
Com a desaceleração do crescimento, Xi apela ao nacionalismo e a uma revisão da história em busca de unidade ao redor do regime. Se o comunismo acabou como ideologia, o filósofo Confúcio, denunciado durante a Revolução Cultural, é resgatado para construir a narrativa da Grande China candidata a maior potência mundial. Esse nacionalismo inquieta os EUA e o Japão, inimigo histórico com que a China disputa umas ilhotas.
Durante a visita a Nova York, observa o jornal The New York Times, Xi vai ocupar o local de Obama ao se hospedar no Hotel Waldorf Astoria, tradicionalmente usado por presidentes e diplomatas americanos durante a reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas. Como o hotel foi vendido para a companhia de seguros chinesa Anbang, os EUA temem ser espionados. É apenas mais um sinal da desconfiança entre as duas maiores potências mundiais.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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