Os satélites dos Estados Unidos detectaram a presença de aviões de caça da Rússia numa base militar no litoral da Síria que comprova o envolvimento cada vez maior do Kremlin na guerra civil da Síria para sustentar seu aliado, o ditador Bachar Assad, que controla menos de 15% do território do país.
Hoje os ministros da Defesa dos EUA e da Rússia tiveram seu primeiro contato direto em mais de um ano. A crise e a intervenção militar de Moscou na Ucrânia deixaram as relações entre a Rússia e o Ocidente no pior estado desde o fim da Guerra, com a dissolução da União Soviética, em 1991.
A retomada do diálogo reflete a preocupação de Washington com a escalada militar russa na Síria a pretexto de combater a milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que hoje domina quase metade da Síria.
Durante 50 minutos, o secretário da Defesa dos EUA, Ashton Carter, e o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, discutiram a intervenção militar russa na Síria. Com o campo de batalha dominado por extremistas muçulmanos, fracassou a tentativa americana de armar e financiar rebeldes moderados.
Os EUA e a União Europeia defendem uma ampla negociação entre diferentes forças políticas, mas exigem o afastamento do ditador como precondição para um acordo capaz de pôr fim à guerra civil síria, iniciada há quatro anos e meio com a repressão de Assad às manifestações pacíficas da Primavera Árabe.
Como o atrito com o Ocidente faz a Rússia resgatar o status de grande potência nuclear, o protoditador Vladimir Putin parece disposto a jogar em todos os tabuleiros para fustigar os EUA e a Europa, reconquistando parte do espaço geopolítico perdido com o colapso da URSS.
Putin está na Síria porque pode. Usou a mesma lógica para anexar a Crimeia e provocar a rebelião no Leste da Ucrânia, certo de que ninguém vai entrar numa guerra possivelmente nuclear com a Rússia.
Quando discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas no fim deste mês, Putin vai apresentar a intervenção como a contribuição russa à guerra contra o Estado Islâmico. Mas sua preocupação maior é impedir a formação de um futuro governo sírio aliado do Ocidente. Ao lado do Irã, é hoje o aliado mais importante de Assad.
Afinal, a Rússia tem na Síria sua única base militar no Mar Mediterrâneo e Putin não está disposto a aceitar um recuo estratégico.
"Temos duas grandes tarefas na Síria: uma é chegar a um acordo diplomático e o outro é derrotar o Estado Islâmico", declarou ao jornal The Washington Post Julianne Smith, ex-funcionária da Casa Branca, hoje pesquisadora do Centro para uma nova Segurança Americana. "Ambas nos levam à Rússia."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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