Numa vitória prevista pelas pesquisas, mas totalmente inesperada quando a campanha começou, o deputado esquerdista Jeremy Corbyn foi eleito novo líder do Partido Trabalhista do Reino Unido. Ele é comparado a Michael Foot, que chefiou o partido de 1980 a 1983, na era Margaret Thatcher, levando-o muito para à esquerda a ponto de torná-lo inelegível.
Com 59,5% dos 422.664 votos de militantes trabalhistas, Corbyn obteve uma vitória esmagadora sobre os rivais Andy Burham (19%), Yvette Cooper (17%) e Liz Kendall (4,5%) no primeiro turno. O vice-líder Tom Watson foi escolhido depois de três rodadas de votação.
A eleição foi provocada pela derrota trabalhista sob a liderança de Ed Miliband nas eleições de 7 de maio, quando o Partido Conservador conquistou a maioria absoluta na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico pela primeira vez desde 1992.
"Eles estão fartos da desigualdade, da injustiça, da pobreza desnecessária. Todas essas questões despertaram um espírito de esperança e otimismo", declarou o novo líder no discurso da vitória. "Meu primeiro ato como líder do partido será participar da manifestação de hoje à tarde em apoio aos refugiados."
A marcha Refugiados são Bem-Vindos Aqui foi realizada hoje em Londres em protesto contra o governo conservador do primeiro-ministro David Cameron, que admitiu receber somente 20 mil refugiados nos próximos cinco anos. Como pelo menos 4 milhões de sírios fugiram do país por causa da guerra civil, os 160 mil que a União Europeia se propõem a acolher são poucos diante do total.
Sob pressão da direita conservadora e do eurocético Partido da Independência do Reino Unido, Cameron rejeita cotas para distribuir os refugiados de acordo na Europa com a população de cada país da UE.
Corbyn se define como socialista democrático. Desde 1983, é deputado da Câmara dos Comuns, eleito pelo distrito de Islington North, em Londres. Prometeu um partido "includente, mais engajado e mais democrático" para "moldar o futuro de todos neste país".
Político da esquerda tradicional, baseado em princípios, ao longo de sua carreira de deputado, votou mais de 500 vezes contra a orientação da liderança do Partido Trabalhista. Como líder, terá de convencer os rebeldes a convencer sua orientação.
A corrente do Neotrabalhismo liderada pelos ex-primeiros-ministros Tony Blair e Gordon Brown se opôs tenazmente à candidatura Corbyn, mas não teve força para deter sua avalanche. O ex-ministro e ex-diretor de comunicações do partido Peter Mandelson, adverte que Corbyn representa uma volta à velha esquerda capaz de destruir o partido.
Blair chegou à liderança do trabalhismo em 1994 e revogou a Cláusula 4 do estatuto do partido, que previa a estatização dos meios de produção. Ao enterrar o socialismo, levou o partido para o centro tentando aproximá-lo da comunidade de negócios e torná-lo mais aceitável pela classe média e mais elegível.
Em 1997, Blair encerrava um período de 18 anos de governos conservadores, a era de Margaret Thatcher, que em 1990 foi substituída por John Major. Blair ganhou três eleições, mas em 2005 estava desgastado pelo apoio à invasão do Iraque pelos Estados Unidos ordenada por George W. Bush em 2003.
Em 2007, Blair foi substituído por seu ministro das Finanças, Gordon Brown, atropelado pela crise financeira internacional de 2008.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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