Daqui a pouco, entre meio-dia e uma da tarde pela hora de Brasília, dou entrevista no programa Confronto Manchete, da Rádio Manchete Rio de Janeiro AM 760 KHz, para falar da crise dos refugiados na Europa.
Durante o programa, disse que a crise dos refugiados é a guerra civil da Síria batendo nas portas da Europa depois de de 4 anos de uma tragédia humanitária, a maior hoje no mundo. Mas não é uma crise europeia.
Dos 4 milhões de sírios que fugiram do país, 1,9 milhão foram para a Turquia, 1,1 milhão para o Líbano, 629 mil para a Jordânia, 98 mil para a Alemanha e 66 mil para a Suécia. Como o Brasil, onde vivem 12,5 milhões de pessoas com origem árabe, recebeu 26 mil refugiados, se fosse um país europeu estaria em terceiro lugar.
Enquanto o conflito sírio não for solucionado com a substituição do ditador Bachar Assad, que começou a guerra ao atirar no seu próprio povo para conter os protestos da Primavera Árabe, e a derrota militar da organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, a crise dos refugiados só vai aumentar.
Há uma série de Estados Nacionais que entraram em colapso, além da Síria e do Iraque há outros com problemas há mais tempo, como o Líbano, o Afeganistão e a Somália. São fontes permanentes de instabilidade, terrorismo e fuga de populações em busca de uma vida digna.
Outra questão importante é a crise do projeto de integração da Europa, abalado pela crise das dívidas públicas de países da periferia da Zona do Euro, agora restrita à Grécia, e pela migração em massa de refugiados, que quebrou os princípios de solidariedade da economia social de mercado. Há uma ascensão de uma extrema direita nacionalista e antieuropeia.
O projeto de integração da União Europeia se baseia na criação de uma entidade supranacional para controlar a ferocidade dos nacionalismos do continente, responsáveis por duas guerras mundiais, e resolver seus conflitos pacificamente, ao mesmo tempo em que o modelo social-democrata criaria uma sociedade mais justa, com os países ricos financiando o desenvolvimento dos mais pobres. A Grécia, a Espanha e Portugal muito se beneficiaram dos fundos de desenvolvimento estrutural.
Num mundo globalizado que gera uma riqueza sem precedentes enquanto aumenta a desigualdade, o modelo europeu de uma globalização solidária e social-democrata seria uma maneira de melhorar a situação econômica e assim reduzir os conflitos nos países menos desenvolvidos, de onde saem as massas de migrantes e refugiados em busca de um futuro melhor.
A crise da Europa é a crise de um projeto de sociedade baseada na paz e na solidariedade.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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