Duas bombas de fabricação caseira feriram seis soldados da força de paz das Nações Unidas no Norte da Península do Sinai, reportou ontem a agência Reuters. A Província do Sinai do Estado Islâmico, tentáculo do grupo terrorista que controle parte da Síria e do Iraque, reivindicou a autoria do atentado.
Dois soldados foram feridos na primeira explosão e os outros quatro quando socorriam seus companheiros. Quatro feridos são americanos.
Todos fazem parte da Força Multinacional de Observação (FMO) instalada no Sinai em 1981 por causa do acordo de paz assinado entre o Egito e Israel em 1979. Os Estados Unidos mantêm 650 soldados na região.
O Sinai foi desmilitarizado e dividido em quatro zonas, o que limitou a quantidade de soldados que o Egito pode manter na região. Depois da queda do ditador Hosni Mubarak, na chamada Primavera Árabe, em 2011, houve um aumento da violência criminal e da atuação de grupos terroristas na área.
Israel concordou então com um pedido egípcio para estacionar mais tropas e tanques no Sinai. O Egito acabou movendo para lá equipamento militar pesado sem avisar o governo israelense, criando um incidente diplomático sem maiores consequências.
A realidade agora é outra, com o aumento da atividade terrorista na província e o surgimento da autointitulada Província Oriental do Estado Islâmico. Em 19 de agosto, os EUA revelaram a intenção de fazer mudanças na Força-Tarefa do Sinai, a parte americana da força multinacional de paz.
O objetivo central da missão era evitar incidentes e hostilidades entre os exércitos de dois países que fizeram um acordo de paz e portanto tinham interesse em preservá-la e não de defender a região do terrorismo.
Assim, os EUA têm duas opções: reforçar a missão de paz ou se retirar. Sem os americanos, provavelmente a FMO entraria em colapso. Tanto Israel quanto o Egito valorizam o papel simbólico que a presença de tropas dos EUA representa.
Washington não deve abandonar seus principais aliados no Oriente Médio, mas no momento têm diferenças de posição com os dois.
O governo Barack Obama questiona a lei antiterrorismo imposta pelo ditador egípcio Abdel Fattah al-Sissi. Considera dura demais, o que acaba estimulando o terrorismo ao jogar na clandestinidade uma grande quantidade de militantes.
Por sua vez, o governo linha-dura de Israel se opõe tenazmente ao acordo nuclear negociado com o Irã pelos EUA e as outras potências com direito de veto no Conselho de Segurança da ONU. A retirada da Força-Tarefa do Sinai mandaria um recado claro aos dois sobre a importância da aliança com Washington.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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