Depois da uma expressiva vitória do Partido Conservador, que elegeu 331 dos 650 deputados da Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, o líder da oposição, Ed Miliband, renunciou hoje de manhã à liderança do Partido Trabalhista. O ex-vice-primeiro-ministro Nick Clegg deixou a liderança do Partido Liberal-Democrata e o mesmo fez Nigel Farage, do ultradireitista Partido da Independência do Reino Unido (UKIP).
No discurso da vitória, o primeiro-ministro David Cameron acenou com uma "Grã-Bretanha ainda maior", mas a realidade é outra. Sob pressão do UKIP e da ala eurocética do Partido Conservador, se fosse reeleito, Cameron prometeu convocar até 2017 um referendo sobre a saída do país da União Europeia. Se o sentimento antieuropeu insuflada pela imprensa sensacionalista ganhar, será desastroso para a economia do país, hoje a quinta maior do mundo.
Com a eleição de apenas 232 deputados, o Partido Trabalhista teve seu pior resultado desde 1987, na última eleição de Margaret Thatcher. O vice-líder do partido e ministro das Finanças do governo paralelo da oposição, Ed Balls, perdeu sua cadeira.
Miliband declarou ter feito o melhor possível nos últimos cinco anos, sem sucesso: "Chegou a hora de outra pessoa assumir a liderença deste partido", declarou, insistindo em que "o trabalhismo voltará".
A dúvida é qual trabalhismo, o neotrabalhismo de Tony Blair, que levou o partido para o centro ao aceitar a economia de mercado e abandonar as ambições socialistas - e ganhou três eleições consecutivas, ou o antigo trabalhismo apoiado nos sindicatos que Miliband tentou ressuscitar. Uma das bases do partido, de onde saíram alguns fundadores e o primeiro líder, a Escócia, desapareceu.
Muito abatido, o ex-vice-primeiro-ministro Nick Clegg admitiu que o desempenho do PLD ficou "muito abaixo das piores expectativas", mas insistiu que ainda há espaço no país para ideias políticas liberais. Ele salvou sua cadeira.
Na extrema direita, depois de vencer as eleições para o Parlamento Europeu no ano passado, Farage pretendia formar uma pequena bancada do UKIP. Só elegeu um deputado. Ele ameaçava abandonar a política se não conseguisse uma vaga no Parlamento Britânico. Com medo de um possível governo trabalhista, a direita concentrou o voto no Partido Conservador.
Outra novidade é a eleição de 187 mulheres, um terço da Câmara dos Comuns.
Além da inesperada vitória conservadora e do avanço feminino, o grande fenômeno dessas eleições foi o crescimento espetacular do Partido Nacional Escocês, sob a liderança de Nicola Sturgeon. Sete meses depois de perder por 55% a 45% o referendo sobre a independência, os nacionalistas elegeram 56 dos 59 deputados da Escócia no Parlamento de Westminster, que querem abandonar.
Se o primeiro-ministro mantiver a promessa e convocar o referendo sobre a UE, há uma grande chance de que os eurocéticos saudosos do passado de glória do Império Britânico votem a favor da retirada. Neste caso, é provável que a Escócia queira continuar sendo parte da Europa unida.
O maior império que o mundo já viu ficaria reduzido à pequena Inglaterra e ao País de Gales. Durante o governo Cameron, o Reino Unido recuou de seu papel de potência mundial.
Quando o ditador Bachar Assad usou armas químicas na guerra civil da Síria apesar de uma ameaça de bombardeios dos Estados Unidos e aliados, havia a expectativa de que o Reino Unido o acompanhasse como um aliado fiel e incondicional desde que os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial, em 1942. O Parlamento Britânico negou autorização a Cameron.
Como o ex-primeiro-ministro Tony Blair saiu do governo desmoralizado em 2007, depois de apoiar a invasão ilegal do Iraque por George W. Bush, em 2003, Cameron rompeu na prática a "relação especial" com os EUA. Se o Reino Unido deixar a UE, perderá a importante função de ponte entre EUA e Europa.
Setenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em que o país resistiu heroicamente aos bombardeios e à expansão da Alemanha nazista antes que a União Soviética e os EUA entrassem na guerra, o Reino Unido está deixando de ser uma potência mundial.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sexta-feira, 8 de maio de 2015
Líderes de partidos derrotados renunciam no Reino Unido
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