Sem alarde, o presidente Barack Obama avisou o Congresso dos Estados Unidos em 21 de abril de 2015 que pretende renovar um acordo de cooperação nuclear com a China. Ao examinar o assunto, a Comissão de Relações Exteriores do Senado decidiu convocar cinco autoridades do governo para discutir a portas as fechadas as implicações comerciais, políticas e de segurança do acordo.
A cooperação vai permitir à China comprar reatores nucleares projetados nos EUA, equipamentos e tecnologia de reprocessamento de plutônio e uma tecnologia de resfriamento de reatores capaz de tornar os submarinos nucleares chineses mais silenciosos e difíceis de detectar.
O regime comunista chinês aumenta a cada ano seu orçamento e seu poderio militar. Já tem porta-aviões, submarinos e mísseis antissatélite capazes de neutralizar a superioridade militar dos EUA. Ameaça os países vizinhos com que têm disputas territoriais e está construindo bases em ilhas contestadas.
Assim, a venda de tecnologia nuclear aumentaria o poderio naval da China e o risco de proliferação nuclear. Se a decisão do presidente indica uma confiança nas relações com a segunda maior potência mundial, a indústria nuclear americana está de olho na venda de dezenas de reatores para a China.
Obama reafirma assim sua doutrina de política externa baseada num "engajamento construtivo", dando prioridade à diplomacia em vez do uso da força que caracterizou seu antecessor George W. Bush.
Para a oposição republicana, é um sinal de fraqueza, quase uma rendição: "Estes acordos podem ser instrumentos valiosos para promover os interesses dos EUA, mas eles devem sustentar e não minar os objetivos críticos de não proliferação do país", comentou o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o republicano Bob Corker.
O diretor-executivo do Centro de Educação Política para a Não Proliferação, Henry Sokolski, está preocupado com o reprocessamento de plutônio para uso em armas atômicas e o uso da tecnologia de resfriamento em submarinos nucleares. Na sua opinião, o problema é simples: "Desde quando o emprego pode comprometer a segurança nacional?"
A China explodiu sua bomba atômica em 1964. Tem cerca de 250 ogivas nucleares em condições de uso. Já absorveu tecnologia de armas e equipamentos militares importados da Rússia. Só recentemente Moscou voltou a vender aviões de alta tecnologia, sob pressão da crise e do isolamento internacional depois da invasão da Ucrânia. Sabe que a tecnologia será canibalizada.
O acordo de cooperação nuclear China-EUA, de 1985, foi assinado com base na Lei de Energia Atômica, de 1954, parte do programa Átomos para a Paz, do governo Dwight Eisenhower (1953-61), uma iniciativa para oferecer energia nuclear para fins pacíficos na tentativa de convencer outros países a não fazer a bomba atômica. Os EUA fizeram 123 acordos de cooperação nuclear pacífica com 22 países.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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