Em uma nova iniciativa surpreendente do papa Francisco, o Vaticano anunciou hoje ter chegado a um acordo com o "Estado da Palestina", reconhecendo assim sua independência, o que irritou Israel. O tratado deve ser assinado "num futuro próximo".
A primeira oportunidade será na visita do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, ao Vaticano no sábado, véspera da canonização de duas freiras palestinas. O tratado sobre as atividades da Igreja Católica nos territórios palestinos será o primeiro documento escrito em que a Santa Sé reconhece a Palestina como um país independente.
O Vaticano já tratava a Palestina como um Estado Nacional independente desde novembro de 2012, quando a Palestina foi aceita como observadora nas Nações Unidas, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
"Há uma continuidade coerente", afirmou Lombardi em entrevista à televisão americana CNN. "Obviamente, este é um acordo internacional com o Estado da Palestina, então reafirma o reconhecimento."
É um momento crítico para a causa nacional palestina. Israel acaba de formar um novo governo direitista. Sob pressão do partido de ultradireita Casa Judaica, que não aceita a criação de uma Palestina independente, o primeiro-ministro linha-dura Benjamin Netanyahu prometeu ceder aos colonos israelenses o direito de construir e ampliar novas colônias na Cisjordânia ocupada.
Seu líder, Naftali Bennett, é contra a solução com dois países, Israel e a Palestina, convivendo lado a lado. Hoje, 135 dos 193 países-membros da ONU reconhecem a independência da Palestina, que na pratica fica mais distante.
Desde que foi eleito papa em março de 2003, Francisco pressionou as potências ocidentais a não bombardear a Síria, acolheu os homossexuais na Igreja, irritou a Turquia ao reconhecer como genocídio a matança de 1,5 milhão armênios em 1915-16, durante a Primeira Guerra Mundial e ajudou nas negociações de bastidores que levaram ao reatamento entre os EUA e Cuba.
Em junho de 2004, o papa recebeu Abbas e o ex-presidente de Israel Shimon Peres para um momento de oração em Roma. Recentemente, Francisco protestou contra a perseguição aos cristãos pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Para Candida Moss, professora de história do cristianismo na Universidade de Notre Dame, nos EUA, o reconhecimento da Palestina ajuda a chamar a atenção para a ameaça aos cristãos no Oriente Médio: "A defesa de grupos marginalizados é uma parte central deste papado, então é totalmente esperado que Francisco aproveitasse esta oportunidade para expressar solidariedade aos marginalizados do Oriente Médio."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 13 de maio de 2015
Vaticano reconhece a independência da Palestina
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