O presidente Pierre Nkurunziza fez hoje sua primeira aparição em público depois da fracassada tentativa de golpe da quarta-feira passada no Burúndi, um país pequeno e pobre do centro da África. Em breve declaração diante do palácio presidencial em Bujumbura, ele declarou que não teme as ameaças da milícia terrorista somaliana Al Chababe (A Juventude).
O Burúndi participa da força de paz da União Africana liderada pelo Quênia para apoiar o governo provisório da Somália. Em retaliação, a milícia jihadista já atacou várias vezes no Quênia. Em 2 de abril de 2015, massacrou 148 pessoas na universidade de Garissa. Mas agora acusou Nkurunziza de desviar as atenções da tentativa de golpe para o inimigo externo
Em 13 de maio, quando o presidente participava de uma reunião da Comunidade da África Oriental na vizinha Tanzânia para discutir a crise no Burúndi, o general Godefroid Niyombare anunciou sua destituição depois de semanas de violentos protestos de rua contra a tentativa de Nkurunziza de concorrer a um terceiro mandato presidencial, violando o limite imposto pela Constituição.
Sem conseguir entrar em seu país na quinta-feira, Nkurunziza voltou para a Tanzânia, enquanto seus partidários resistiam ao golpe no Burúndi. Ele regressou ao país na sexta-feira. Nos últimos dias, mais de 100 mil burundeses fugiram do país temendo um reinício da guerra civil entre a maioria hutu e a minoria tútsi, que acabou em 2005 com a eleição indireta de Nkurunziza, um hutu.
Pela primeira eleição ter sido indireta, o presidente alega poder concorrer a um segundo mandato pelo voto popular, o que lhe daria três mandatos consecutivos.
Ontem, 17 golpistas presos foram apresentados à Justiça, mas não seu líder, que está foragido, apesar de sua prisão ter sido anunciada.
O general Niyombare foi o primeiro hutu a comandar o Exército, historicamente dominado pela minoria tútsi, a partir de 2006. Impôs a promoção por mérito e não por etnicidade, uma contribuição importante para a pacificação depois da guerra civil de 1993-2005.
Em 2012, Niyombare passou a ser o chefe do serviço secreto e principal assessor de segurança do presidente. Tinha sido demitido em fevereiro da chefia do serviço secreto burundês por se opor a um terceiro mandato para o presidente.
Diante da rebelião, o governo do Burúndi admite adiar as eleições parlamentares, previstas para 26 de maio, e a eleição presidencial, marcada para 26 de junho. Um líder da oposição sem relação com os golpistas convocou a população a voltar a sair às ruas para impedir a reeleição de Nkurunziza.
A crise no Burúndi é mais uma tentativa de presidentes da África de alterar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato. Em Burkina Fasso, uma revolta popular derrubou Blaise Compaoré em outubro de 2014. Denis Sassou-Nguesso, do Congo; Joseph Kabila, da República Democrática do Congo; e Paul Kagame, de Ruanda; estão de olho em mais mandato.
Em Uganda Yoweri Museveni usou suas maiorias parlamentares para mudar a Constituição e acabar com a limitação do número de mandatos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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