Pelo menos 220 soldados do Exército da Rússia morreram desde abril de 2014 na intervenção militar no Leste da Ucrânia, denuncia o Relatório Nemtsov, preparado por oposicionistas e jornalistas russos para acusar o presidente Vladimir Putin de ser o responsável pela guerra. O governo russo nega participação no conflito.
Ontem o secretário de Estado americano, John Kerry, fez em Sóchi a primeira visita de um alto funcionário dos Estados Unidos à Rússia desde a anexação ilegal da Crimeia, em março do ano passado. É um degelo que só vai se completar se Putin assumir sua responsabilidade e acabar com a guerra na Ucrânia. Kerry advertiu que as sanções do Ocidente só serão suspensas quando o acordo de paz de Minsk for cumprido.
O relatório Guerra de Putin, de 65 páginas, começou a ser escrito pelo ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov, assassinado em 27 de fevereiro de 2015 a 50 metros das muralhas do Kremlin, horas antes de um comício onde apresentaria suas conclusões à opinião pública do país.
"Não podemos dizer que Nemtsov foi morto por causa deste relatório, mas também não podemos descartar esta possibilidade", observou Ilia Yachin, coautor do documento, citado pelo jornal inglês Financial Times. "Acreditamos que seu trabalho neste relatório era perigoso e insistimos que os investigadores examinem esta hipótese."
Para elaborar o relatório, os pesquisadores entrevistaram soldados russos, suas famílias, seus advogados e jornalistas. Pelos seus cálculos, o Kremlin gastou 46 bilhões de rublos (R$ 2,76 bilhões) para enviar tropas russas e dar ajuda direta aos rebeldes nos primeiros dez meses e mais 7 bilhões (R$ 421 milhões) em equipamentos militares.
O total de soldados russos mortos apontado pelo relatório é o maior mencionado até hoje. No ano passado, pelo menos 150 soldados russos foram mortos, a maioria na batalha pela cidade de Ilovaisk. Outros 70 soldados russos morreram em janeiro e fevereiro de 2015 na ofensiva para tomar Delbatsevo, um importante entroncamento rodoviário, antes do acordo de paz de Minsk, negociado pela União Europeia.
De acordo com o relatório, cada família de soldado morto recebeu 3 milhões de rublos do governo Putin (R$ 180 mil) de indenização. O total de homens das forças rebeldes, incluindo soldados, mercenários e voluntários russos, passou de 10 a 15 mil em meados do ano passado para 35 a 37 mil no início deste ano, dos quais 8 a 10 mil seriam soldados russos.
A oposição russa já fez um relatório sobre o enriquecimento ilícito de Putin e a corrupção na Olimpíada de Inverno de Sóchi, em 2014. O próximo será sobre Ramzan Kadirov, o senhor da guerra e ditador da república autônoma da Chechênia. Seus guarda-costas foram acusados pela morte de Nemtsov.
O principal líder da oposição russa, o advogado, blogueiro e ex-candidato a prefeito de Moscou Alexei Navalny, estava preso e seria substituído no comício por Nemtsov. Ele não acredita que o Kremlin não esteja envolvido no assassinato. Como líder da oposição, diz Navalny, Nemtsov era vigiado 24 horas. Assim, seria impossível que o serviço secreto da Rússia não soubesse de nada.
A grande suspeita recai sobre o próprio Serviço Federal de Segurança, do qual Putin foi diretor antes de chegar ao Kremlin, herdeiro do Comitê de Defesa do Estado (KGB), a temida polícia política da União Soviética. O serviços de inteligência ainda governa o país.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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