Seis pistoleiros de motocicleta vestidos como policiais invadiram hoje um ônibus em Caráchi, a capital econômica do Paquistão, e atiraram nos 60 passageiros, matando pelo menos 45 pessoas da minoria xiita ismaelita, informou a televisão pública britânica BBC.
A milícia Jundullah (Exército de Deus), uma dissidência dos Talebã do Paquistão, e aliados do Estado Islâmico reivindicaram a autoria do massacre.
O Jundullah já manifestou simpatia pelo Estado Islâmico, mas as alegações de autoria foram distintas. Seria a primeira ação no Paquistão do grupo jihadista do Oriente Médio, que em 29 de junho de 2014 proclamou a fundação de um califado com jurisdição universal.
Foi o segundo pior ataque terrorista do ano no Paquistão, depois de um atentado terrorista suicida que matou 62 xiitas em janeiro. Em 16 de dezembro de 2014, os Talebã mataram 145 pessoas, sendo 132 estudantes, numa escola secundária do Exército na cidade de Peshawar.
Em resposta, as Forças Armadas lançaram uma campanha antiterrorista e o governo reinstaurou a pena de morte, que não era aplicada há seis anos. A execução de um terrorista ontem teria deflagrado a vingança.
O ônibus fazia cinco viagens por dia levando moradores de um condomínio fechado, o Jardim Al-Azhar, onde vivem membros da comunidade ismaelita, um dos ramos do xiismo. Foi o primeiro ataque terrorista contra os ismaelitas no Paquistão.
Ao chegar a Caráchi para ver a tragédia de perto, o primeiro-ministro islamita moderado Nawaz Sharif condenou o ataque como "uma tentativa de gerar o caos": "Os terroristas escolheram uma comunidade muito pacífica e patriótica como alvo para atingir seus propósitos nefastos."
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, cobrou do governo paquistanês que "tome medidas imediatamente para proteger as minorias religiosas no país."
Além dos mortos, 13 pessoas saíram feridas. Todos foram baleados à queima-roupa na cabeça com pistolas de 9 mm, revelou o chefe de polícia da província de Sindh, general Ghulam Haider Jamali. Os terroristas conseguiram escapar.
"Uma garota se escondeu e sobreviveu", contou o coordenador do Centro Médico Memon, Rana Razzak ao jornal paquistanês Dawn. "Três ou quatro pessoas que chegaram ao hospital sobreviveram. Todos os outros morreram."
O governador da província, Syed Kaim Ali Shah, prometeu uma indenização de 500 mil rúpias paquistanesas (R$ 14.930) para a família da cada um dos mortos e de 200 mil rúpias paquistanesas (R$ 5.972) para cada ferido.
Mais mil xiitas foram mortos nos últimos dois anos no Paquistão, a maioria pela milícia Lashkar-e-Jhangvi (Exército de Jhangvi, nome de um clérigo assassinado por xiitas em 1990), que os considera hereges. Os ismaelitas são vistos como um ramo progressista do islamismo, o que provoca a ira dos fundamentalistas. Seu líder espiritual é o príncipe e magnata Karim Aga Khan.
Segundo país muçulmano mais populoso depois da Indonésia, com 200 milhões de habitantes, o Paquistão é 70% sunita e 20% xiita. É o único país muçulmano com armas nucleares.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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