O protoditador Vladimir Putin organizou a maior parada militar da história da Rússia para festejar hoje os 70 anos da vitória da União Soviética e seus aliados sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. A seu lado, estava o ditador da China, Xi Jinping, que cultiva como novo aliado. Mas nenhuma demonstração de força consegue esconder a crise econômica do país.
Na Rússia, a Segunda Guerra Mundial é chamada de Grande Guerra Patriótica, o momento de maior glória e sacrifício da URSS. A pátria do comunismo perdeu 27 milhões de habitantes no pior conflito da história, cerca de 15% de sua população. Várias cidades soviéticas, como Kiev, a capital da Ucrânia; Leningrado, hoje São Petersburgo; e Stalingrado, hoje Volgogrado; foram declaradas "cidades heroicas".
Em 1995, Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia pós-soviética, recebeu os líderes mundiais para a festa dos 50 anos da vitória na Europa.
O tom da comemoração russa começou a mudar em 2005, quando George W. Bush estava a seu lado na Praça Vermelha. Depois da Revolução Rosa (2003) na ex-república soviética da Geórgia e da Revolução Laranja (2004) na ex-república soviética da Ucrânia, Putin agradeceu a ajuda dos aliados ocidentais, mas atribuiu a vitória à bravura dos povos russo e soviéticos.
Na sua opinião, o fim da URSS foi "a maior catástrofe geopolítica do século 20". Putin tenta desesperadamente restaurar parte do poder imperial soviético. Quer manter zonas de influência e trata ex-repúblicas soviéticas como províncias, a pretexto de proteger os 25 milhões de russos que hoje moram no "exterior próximo", expressão usada para designar as outras ex-repúblicas da URSS.
Agora, Putin reescreve a história para apresentar o conflito na Ucrânia como uma continuação da luta contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial. A anexação da Crimeia, em março de 2014, foi a primeira mudança de fronteiras na Europa à força desde 1945, uma violação da Carta das Nações Unidas e da ordem internacional do pós-guerra.
Mais de 6 mil pessoas foram mortas nos últimos 13 meses no Leste da Ucrânia. Sob o peso das sanções ocidentais contra a intervenção militar russa no país vizinho e da queda nos preços do petróleo, a Rússia entrou na segunda recessão em seis anos.
Dos 68 convites enviados, só cerca de 20 líderes mundiais apareceram hoje em Moscou, na maioria ditadores como Xi Jinping, da China; Raúl Castro, de Cuba; e Nursultan Nazarbaiev, recentemente reeleito com 98% dos votos no Casaquistão. Rejeitaram o convite Alemanha, Austrália, Bélgica, Bielorrúsia, Bulgária, Canadá, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, EUA, Estônia, Finlândia, Geórgia, Holanda, Israel, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Montenegro, Noruega, Reino Unido, República Tcheca e Suécia.
O Brasil mandou o ministro da Defesa, Jacques Wagner. Apesar da aliança no grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que reúne grandes países emergentes, o governo Putin acredita que o Brasil cedeu à pressão dos EUA na questão ucraniana.
Amanhã, a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, coloca flores num monumento em homenagem aos mortos. Ela é a principal negociadora entre Moscou e Kiev e Moscou e o Ocidente na crise atual.
Entre as estrelas da festa de Putin, além dos 16 mil soldados com diferentes uniformes da história da Rússia, estão os novos tanques T-14 Armata, o blindado Kurganets-25, o sistema de artilharia Koalitsiya e as plataformas móveis de lançamento de mísseis nucleares intercontinentais balísticos RS-24 Yars. Mais de 140 aviões de combate sobrevoaram a Praça Vermelha, inclusive os bombardeiros estratégicos que hoje invadem o espaço aéreo europeu como no tempo da Guerra Fria.
Sem conseguir concorrer economicamente com a Ásia e o Ocidente, o homem-forte do Kremlin tratou de fortalecer a indústria bélica da Rússia, um dos poucos setores competitivos da economia. Não basta para voltar a ser uma potência mundial, mas ajuda a ameaçar e desestabilizar os vizinhos e a ordem internacional.
A parada militar de hoje mostra que a Rússia continua sendo uma superpotência militar e está desenvolvendo equipamentos para modernizar suas Forças Armadas. Mas uma grande potência não se sustenta sem uma base econômica forte. Com a demonstração de força, o Kremlin tenta provar que, apesar da crise econômica, consegue mobilizar seus recursos para novas batalhas heroicas, como Stalin nos anos 1930s.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
sábado, 9 de maio de 2015
Rússia mostra força militar para esconder fraqueza
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