Sem a mesma pompa, circunstância e unidade de comemorações anteriores, os aliados na Segunda Guerra Mundial festejaram hoje os 70 anos de capitulação da Alemanha nazista e do fim da guerra na Europa. Por causa do atual conflito entre a Rússia, os Estados Unidos e a União Europeia em torno da crise na Ucrânia, não houve uma cerimônia conjunta.
As homenagens começaram à meia-noite no porto de Gdansk, na Polônia, onde um bombardeio alemão, em 1º de setembro de 1939, marcou o início da guerra. Até 8 de maio de 1945, o conflito chegaria a todos os continentes. Ainda continuou no Japão até o lançamento das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto daquele ano.
Ao todo, foram pelo menos 55 milhões de mortos, sendo 27 milhões de soviéticos, 11 milhões de alemães e 6 milhões de judeus massacrados nos campos de concentração e centros de extermínio do Holocausto.
Em Londres, mais de um milhão de pessoas saíram às ruas quando o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, um dos grandes heróis da guerra, anunciou que os combates cessariam à meia-noite. A morte de Adolf Hitler dias antes foi confirmada. A Europa arrasada acordava de um pesadelo que lhe custou a posição de centro do mundo que ocupava há cinco séculos.
Hoje de manhã, em Paris, o presidente François Hollande colocou flores no monumento aos soldados mortos na guerra. O mesmo fizeram em Londres os líderes dos três maiores partidos britânicos, o primeiro-ministro conservador David Cameron, o vice-primeiro-ministro liberal-democrata Nick Clegg e o agora ex-líder da oposição trabalhista, Ed Miliband depois de uma longa noite de eleições.
Na Alemanha, o presidente Joachin Gauck agradeceu aos exércitos que, nas suas palavras, "libertaram a Alemanha" do jugo nazista.
A Rússia festeja amanhã a vitória no que a União Soviética chamava de "grande guerra patriótica". Cerca de 90 das tropas alemãs foram derrotadas na frente russa, com o apoio logístico dos aliados, que garantiam o suprimento das forças soviéticas através do Irã. Mas hoje, sob o governo de Vladimir Putin, a Rússia reinterpreta a história para justificar as posições políticas do atual líder do Kremlin.
O conflito na Ucrânia é apresentado na mídia oficial como uma continuação da luta contra o nazismo. A presença marginal de um grupo neonazista Setor de Direita na luta contra o ex-presidente Viktor Yanukovich é usada para justificar a anexação da Crimeia e a intervenção militar de Moscou no Leste da Ucrânia.
Pela primeira vez desde 1945, as fronteiras da Europa foram mudadas à força, rasgando a Carta das Nações Unidas. Putin trava uma guerrinha particular na tentativa de restaurar ao menos em parte o poder imperial soviético, mas isola o país diplomaticamente, além de prejudicar a economia. Na era da globalização, a economia é a chave do poder global.
Os novos tanques e mísseis que vão desfilar amanhã na Praça Vermelha farão apenas um simulacro das grandiosas paradas militares do tempo da Guerra Fria para lembrar que as relações entre a Rússia e o Ocidente estão seu pior momento desde a abertura política iniciada pelo líder comunista Mikhail Gorbachev em 1985.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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