quinta-feira, 5 de março de 2015

Perícia encomendada pela família conclui que Nisman foi assassinado

Com base numa perícia encomendada pela família, a juíza federal argentina Sandra Arroyo Salgado afirmou hoje que seu ex-marido, o promotor Alberto Nisman, "foi vítima de homicídio, sem sombra de dúvida". Em entrevista em San Ysidro, onde trabalha, a juíza acrescentou que esta versão "tem respaldo de rigor científico" que "descarta com contundência as hipóteses de acidente ou suicídio", noticiou o jornal Clarín.

Em resposta, a promotora encarregada do caso, Viviana Fein, declarou que ainda não tomou uma posição: "Nada me permite afirmar hoje de maneira categórica se foi homicídio ou suicídio", citou o jornal La Nación.

Nisman foi encontrado morto em seu apartamento no aristocrático bairro de Porto Madero, em Buenos Aires, na noite de domingo, 18 de janeiro de 2015, horas antes de uma audiência na Comissão de Legislação Penal da Câmara de Deputados da Argentina.

O promotor esclareceria aos deputados os indícios da denúncia contra a presidente Cristina Kirchner, assessores e aliados, acusados de fazer um acordo secreto com o Irã para acobertar a participação de sete iranianos e um libanês no pior atentado terrorista da história argentina. O ataque contra a Associação Mutual Israelita Argentina, em 18 de julho de 1994, deixou 85 mortos e quase 300 feridos.

No primeiro momento, a presidente Cristina Kirchner sugeriu que foi suicídio, ao perguntar em redes sociais: "O que faz alguém querer tirar a própria vida?" Na quinta-feira após a morte, mudou a versão para homicídio, insinuando que Nisman teria sido morto pelos mesmos agentes secretos que teriam lhe passado afirmações falsas para incriminá-la.

Em seguida, Cristina extinguiu a Secretaria de Inteligência do Estado (Side), sem dar tempo às autoridades competentes de fazer as devidas investigações. O agente secreto apontado como suspeito pelo governo, Antonio Jaime Stiuso, que estava no serviço secreto desde 1972, tendo passado pela guerra suja da última ditadura militar (1976-83), fugiu da Argentina.

Desde então, a investigação oficial da promotora Viviana Fein se encaminharia, de acordo com a imprensa independente argentina, para a hipótese de suicídio. A fim de contestar esta versão, a juíza Arroyo Salgado contratou uma perícia privada realizada pelo legista Osvaldo Roffo, o médico Julio Ravioli, o criminalista Daniel Salcedo, o psiquiatra Ricardo Risso e o especialista em informática Gustavo Presman.

A perícia paralela chegou a pelo menos três conclusões diferentes da oficial. "Não houve espasmo cadavérico, o que quer dizer que houve agonia", declarou a juíza, o que seria comprovado por "uma copiosa hemorragia externa". Nisman agonizou antes de morrer.

O corpo foi movido de lugar. "A posição em que foi encontrado o corpo não foi a da morte", disse Sandra Salgado, sem esclarecer se a movimentação foi necessária para abrir a porta do banheiro onde o cadáver foi encontrado.

A hora da morte também estaria errada. Enquanto a inquérito oficial aponta o domingo como dia do assassinato, Salgado Arroyo acredita que a morte ocorreu cerca de 36 horas antes do início da autópsia, realizada às 8h de 19 de fevereiro. Portanto, Nisman teria morrido no sábado à noite.

O tiro fatal partiu mesmo de uma pistola Bersa calibre 22, como está no inquérito oficial, mas não havia vestígios de pólvora nas mãos do promotor, como teria de haver se ele mesmo tivesse disparado e insunuou no primeiro momento o sítio oficial Infojus. E Nisman não estava havia bebido, enfatizou sua ex-mulher: "Não se demonstrou a presença de álcool nas vísceras, no sangue ou na urina."

Na Câmara dos Deputados, o ex-vice-presidente Julio Cobos e o ex-ministro da Economia Martín Lousteau criticaram as manobras oficiais do kirchnerismo para manchar a imagem do promotor morto. Em nota, Cobos declarou que "o Poder Executivo deve colaborar com a investigação da morte do promotor Nisman."

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