O Banco do Japão surpreendeu os investidores hoje ao anunciar uma expansão de seu programa ultra-agressivo de compra de títulos para retirar papéis negociados no mercado financeiro e aumentar a quantidade de dinheiro em circulação num volume anual de 80 trilhões de ienes, US$ 724 bilhões pela cotação de hoje. As bolsas da Ásia reagiram operando em alta.
Tanto o Banco do Japão quanto o Banco Central Europeu recorrem aos chamados programas de alívio quantitativo para combater a deflação e estimular o crescimento no momento em que a Reserva Federal (Fed), o banco central dos Estados Unidos, encerra seu programa. O Fed acredita que a maior economia do mundo está recuperada, mas o Banco do Japão reduziu hoje sua previsão de crescimento para este ano para 0,5% e para 2015 de 1,4% para 1%.
Ao anunciar a ampliação do programa de compra de ativos, as autoridades monetárias japonesas afirmaram ser necessária para combater a "mentalidade deflacionária", diante do consumo fraco e da queda nos preços internacionais do petróleo. Em setembro, a inflação caiu para 1%, a menor taxa em 12 meses.
A meta de inflação do primeiro-ministro Shinzo Abe é de 2% ao ano. Desde que chegou ao poder, em dezembro de 2012, Abe mostrou determinação para reinflar a terceira maior economia do mundo e acabar com a estagnação e a deflação que já dura mais de duas décadas, entre outras razões por causa da competição estratégica com a China, que ultrapassou o Japão em 2010 para se tornar a segunda maior economia do mundo.
Depois de um sucesso inicial, a chamada abeconomia, que combina gastos públicos com aumento da quantidade de moeda em circulação e reformas estruturais, sofreu um golpe.
O aumento, em 1º de abril de 2014, de um imposto sobre consumo de 5% a 10% derrubou o produto interno bruto em 1,8% no segundo trimestre para US$ 4,9 trilhões, depois de uma alta de 1,5% no primeiro. Com a ameaça de queda de preços e o aumento do desemprego de 3,5% para 3,6% em setembro, o Banco do Japão reagiu hoje.
Até agora, as aquisições eram sobretudo de títulos de longo prazo da dívida pública do Japão. Daqui para a frente, devem triplicar as compras de títulos de fundos negociados em bolsas e de fundos de investimento imobiliário.
Com a notícia, a moeda japonesa, o iene caiu para 110 por dólar, a menor cotação desde 1º de outubro de 2014. Isso ajuda as exportações japonesas abaladas pela concorrência de países vizinhos com custos de produção muito menores, a começar pela China. Os saldos comerciais espetaculares japoneses são passado.
De 1970 a 2010, o Japão apresentou saldos comerciais positivos. Desde 2011, compra mais do que vende ao exterior. Em setembro de 2014, o déficit comercial foi de US$ 8,7 bilhões.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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