Oitenta famílias deixaram na semana passada suas casas nos vales e montanhas nos Andes peruanos e foram até a cidade de Ayacucho receber os restos mortais de 80 das 1.689 vítimas da "guerra suja" do Peru contra o grupo guerrilheiro de inspiração maoísta e polpotiana Sendero Luminoso já identificados, noticiou a televisão pública britânica BBC.
A última guerra civil peruana durou de 1980 a 2000 e matou 70 mil pessoas, de acordo com a Comissão da Verdade criada pelo governo em 2003.
Uma equipe de médicos legistas começou a exumar em 2006 os restos mortais de vítimas enterradas clandestinamente em covas rasas. Esses restos devolvidos agora foram de cadáveres exumados entre 2011 e 2013 nas províncias de Ayacucho e Huncavélica. Os legistas acreditam ter encontrado os restos de 2.925 pessoas e identificado 1.689.
Das 80 vítimas com restos devolvidos, 51 foram mortas pelo Sendero Luminoso e 29 pelas forças de segurança. A maioria era adulta, homens e mulheres. Duas estavam grávidas.
Durante o governo Alberto Fujimori (1990-2000), para derrotar o Sendero, o diretor do Serviço Nacional de Inteligência, Vladimiro Montesinos, criou o esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina, acusado de sequestro, tortura e desaparecimento de pessoas. Depois de ser flagrado pela televisão comprando deputados para aderirem ao governo, Montesinos fugiu para o Panamá e Fujimori renunciou.
Sob pressão dos Estados Unidos, em junho de 2001, o Panamá entregou Montesinos à Venezuela, que o extraditou para o Peru.
Hoje Montesinos está numa prisão de segurança máxima numa base naval em Callao, o porto de Lima. Está respondendo a 63 acusações, de tráfico de drogas a assassinato. Já foi condenado a 20 anos de prisão pelo tráfico de 10 mil fuzis para a guerrilha colombiana.
Fujimori foi sentenciado a 25 anos de prisão em 2009 pelas atividades do Grupo Colina. Tem outras condenações por corrupção e abuso de poder, mas, pela lei peruana, a pena máxima é de 25 anos.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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