quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Fed encerra compra de títulos para colocar mais dinheiro em circulação

A Reserva Federal (Fed), o banco central dos Estados Unidos, anunciou hoje que encerra no fim deste mês o "programa de alívio quantitativo", a compra de títulos públicos para aumentar a quantidade de dinheiro em circulação e assim estimular a economia do país a sair da crise. Neste mês de outubro de 2014, o Fed comprou títulos no valor de US$ 15 bilhões.

Ao todo, desde o início da crise, o Fed colocou em circulação mais US$ 3,7 trilhões. A dúvida é se a maior economia do mundo já consegue andar com suas próprias forças.

O próximo passo para normalizar a política monetária será elevar as taxas básicas de juros. No momento, o mercado prevê que isto aconteça em meados de 2015. Vai depender do comportamento da inflação. O Fed segue informalmente uma meta de 1% a 2% ao ano. O índice de preços ao consumidor está em 1,5% desde setembro de 2012.

Depois de baixar a taxa básica de juros para praticamente zero em dezembro de 2008, diante da Grande Recessão deflagrada pelo colapso do banco de investimentos Lehman Brothers três meses antes, o banco central americano entendeu que o único instrumento de política monetária capaz de estimular a economia era colocar mais dinheiro em circulação, imprimir dinheiro.

De dezembro de 2008 a junho de 2010, o banco central americano comprou títulos de crédito imobiliário no valor de US$ 600 bilhões. Os EUA saíram da recessão no terceiro trimestre de 2009, mas, como foi a crise financeira mais séria desde a Grande Depressão (1929-39), as dívidas pessoais e do governo frearam a retomada no consumo.

Em agosto de 2010, concluindo que a recuperação era frágil e estava ameaçada, o banco central dos EUA passou a comprar notas do Tesouro Nacional, títulos da dívida pública americana no valor de US$ 30 bilhões por mês.

A segunda rodada de alívio quantitativo começou logo depois. De novembro de 2010 a junho de 2011, o Fed comprou mais US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro. Ainda não foi suficiente para tirar os EUA da lona.

Uma terceira etapa foi anunciada em 13 de setembro de 2012, quatro anos depois da falência do Lehman Brothers. Por 11-1, o Conselho da Reserva Federal, a diretoria do banco central dos EUA, decidiu comprar US$ 40 bilhões por mês em títulos da dívida pública e da dívida hipotecária por prazo indeterminado. Esse valor foi elevado para US$ 85 bilhões por mês em dezembro de 2012.

Como esta é uma política monetária não convencional que só havia sido aplicada no Japão no início do século 21 para combater a estagnação e a deflação, o fim do programa foi lento e gradual para evitar sobressaltos.

No Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, denunciou uma "guerra cambial" quando o banco central dos EUA começou a imprimir dólares, como se o objetivo fosse simplesmente desvalorizar a moeda para baixar o preço e aumentar a competitividade das exportações americanas.

Durante seis anos, houve uma abundância de dólares no mercado internacional, com benefício para os países emergentes, que não estavam em crise como os países ricos e tinham grande oferta de capital.

Quando as taxas de juros do Fed começarem a subir, vai haver um aumento do fluxo de dólares em direção aos EUA. Isso pode causar problemas num momento em que as contas externas brasileiras estão deficitárias. A expectativa é de alta do dólar.

O Banco da Inglaterra usou a mesma estratégia para tirar o Reino Unido da crise, comprando 375 bilhões de libras em bônus da dívida pública. São US$ 600 bilhões ou R$ 1,477 trilhão pela cotação de hoje. Na atual conjuntura, o Banco do Japão e o Banco Central Europeu estão comprando títulos para evitar a deflação e atingir a meta de inflação de 2% ao ano.

A proposta do Fed era manter a enxurrada de dólares até que a taxa de desemprego nos EUA caísse para 6,5%. Já está em 5,9%, o que mostra a cautela das autoridades monetárias em desativar o programa. Nos últimos 12 meses, houve um saldo de 2,6 milhões entre empregos gerados e eliminados.

O início do fim do programa foi anunciado pelo então presidente, Ben Bernanke, em junho de 2013, se os indicadores econômicos fossem positivos. Em setembro, o Fed resolveu manter o programa. Finalmente, em dezembro de 2013, o banco central dos EUA prometeu reduzir gradualmente o programa de alívio quantitativo num ritmo de menos US$ 10 bilhões a cada mês.

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