Milhares de manifestantes marcharam hoje pelas ruas de Uagadugu e incendiaram o Parlamento de Burkina Fasso para impedir a votação de uma emenda constitucional para autorizar o presidente Blaise Compaoré, no poder desde 1987, se candidate a mais uma reeleição, em 2015.
O ditador decretou estado de emergência. Para dissipar dúvidas se ele ainda estava no país, Compaoré deu entrevista a uma rádio do interior. Anunciou a dissolução do governo e propôs diálogo com a oposição.
A Constituição de Burkina Fasso limita em dois mandatos o período máximo de governo de um presidente. Compaoré tentaria o quinto. A antiga República do Alto Volta é um país mais pobres do mundo, o 181º do mundo pelo índice de desenvolvimento humano calculado pelas Nações Unidas.
A maioria dos deputados não havia chegado quando o fogo começou. Os que estavam lá se refugiaram num hotel próximo. A sede do Parlamento não foi totalmente destruída, mas móveis e utensílios foram jogados pelas janelas.
Durante seu longo reinado, Compaoré apoiou Charles Taylor, um senhor da guerra que virou presidente da Libéria e hoje cumpre pena de 50 anos de prisão por crimes de guerra e contra a humanidade na guerra civil na vizinha Serra Leoa. Também se aliou a rebeldes em Angola e na Costa do Marfim, embora depois tenha se oferecido como mediador na Costa do Marfim.
Recentemente, Compaoré negociou a libertação de reféns europeus sequestrados por extremistas muçulmanos na África e mediou as negociações de paz entre o governo do Mali e os rebeldes separatistas tuaregues do Movimento Nacional de Libertação de Azawade. Um acordo tornou possível a eleição presidencial de julho de 2013 no Mali.
Em 2011, durante uma onda de protestos contra a inflação nos preços dos alimentos, lojas foram saqueadas e carros roubados, inclusive por soldados do Exército Nacional. Em abril daquele ano, soldados amotinados tomaram o palácio presidencial. Compaoré fugiu, mas conseguiu reassumir o controle da situação. Agora, seu reinado está perto do fim.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Multidão toca fogo no Parlamento em Burkina Fasso
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