Vinte e quatro horas depois do discurso do rei Felipe VI, o governador regional da Catalunha, Carles Puigdemont, criticou, em pronunciamento transmitido há poucos minutos pela televisão, a declaração real por não fazer um "apelo ao diálogo e à concórdia", informou o jornal La Vanguardia, de Barcelona.
Depois do plebiscito ilegal reprimido com violência pela polícia espanhola no domingo passado, Puigdemont pediu a mediação da União Europeia e anunciou que vai declarar independência, provavelmente na próxima segunda-feira.
"Assim, não", reagiu o governador Puigdemont, em resposta ao discurso do rei, "você decepcionou muitos catalães. "A gente esperava de você um apelo ao diálogo e à concórdia. O rei ignora deliberadamente os milhões de catalães que não pensam como o gobierno", falando em catalão, mas se referindo ao governo central de Madri em castelhano.
Puigdemont lamentou que "o rei não tenha exercido o poder moderador que a Constituição lhe outorga" e citou a greve geral e as manifestações de massa de ontem, que reuniram 700 mil pessoas, para dizer: "Somos um povo unido, que sempre tenta fazer as coisas com civismo e paz", acrescentou, numa condenação implícita ao uso da força contra o plebiscito, que deixou mais de 800 feridos.
Hoje, os partidos favoráveis à independência, Junts por el Sí e Candidatura de Unidade Popular (CUP), fizeram o pedido para que o governador vá na segunda-feira ao Parlament apresentar os resultados do plebiscito de 1º de outubro. A CUP exige uma declaração unilateral de independência da Catalunha em 9 de outubro.
Cerca de 42,3% dos mais de 5 milhões de eleitores da Catalunha votaram em 1º de outubro. Quem é contra a independência boicotou o plebiscito e muitos eleitores foram impedidos de votar pela polícia espanhola. Pela primeira contagem oficial, 92% dos votantes aprovaram a independência, mas isso representa pouco menos de 38% do total do eleitorado, o que mina sua legitimidade.
Pela manhã, o porta-voz do govern, Jordi Turull, confirmou que a marcha rumo à independência está definida: quando a recontagem dos votos do plebiscito de 1º de outubro for concluída definitivamente, o resultado será levado ao Parlament, que vai declarar a independência da Catalunha.
A Espanha já deixou claro que vai rejeitar a proclamação. Pela Constituição de 1978, todo o país deve votar em plebiscitos sobre a independência e não apenas a região interessada. Por isso, o Tribunal Constitucional e o governo conservador do primeiro-ministro Mariano Rajoy consideram a consulta popular ilegal.
Está criada uma crise constitucional, agravada pela prepotência do governo Rajoy. Como a UE não quer estimular movimentos pela independência, anunciou que se trata de uma questão interna da Espanha. O governo catalão pede a intermediação em defesa dos direitos de seus cidadãos como cidadãos europeus.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário