A polícia da Espanha tentou impedir hoje a realização de um plebiscito sobre a independência da Catalunha. A consulta popular, convocada pelo governo autônomo regional, foi considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional e o primeiro-ministro Mariano Rajoy mandou a polícia aplicar a decisão. Houve choques. Mais de 800 pessoas saíram feridas, informou a prefeita de Barcelona, Ada Colau.
Em desafio ao governo central de Madri, os partidários da independência da Catalunha ocuparam pelo menos 160 escolas usadas como locais de votação para garantir a realização do plebiscito. Antes do horário de abertura das seções eleitorais, a polícia de choque ocupou uma escola em São Julião de Ramis, onde votaria o governador regional catalão, Carles Puigdemont.
Os policiais removeram eleitores a força e dispararam balas de borracha contra a multidão. Um porta-voz do governo espanhol admitiu o uso de balas de borracha, mas descreveu os casos como "incidentes isolados" em que a polícia sentiu-se ameaçada.
Houve cenas semelhantes em Barcelona, a capital regional, e Tarragona. O governador denunciou a "brutalidade policial": "A violência injustificada, desmedida e irresponsável do Estado espanhol não conseguir impedir o desejo dos catalães de votar pacífica e democraticamente."
No horário de abertura das urnas, às 9h (4h em Brasília), apesar da apreensão de milhões de células e urnas pelas autoridades espanholas, os mesários tinham grande quantidade de cédulas para oferecer aos eleitoral. O governo regional catalão declarou que 2.325 zonas eleitorais, 96% do total, funcionaram. A votação vai até 20h (15h em Brasília).
Num sinal de protesto, o jogo entre Barcelona e Las Palmas pelo Campeonato da Espanha foi disputado a portas fechadas, sem torcedores. Os jogadores do Las Palmas costuraram a bandeira espanhola na camiseta.
O ex-primeiro-ministro da Bélgica Guy Verhofstadt, hoje deputado do Parlamento Europeu, criticou as duas partes: "Não quero interferir em questões internas da Espanha, mas condeno totalmente o que aconteceu hoje na Catalunha.
"De um lado, os partidos separatistas levaram adiante um plebiscito considerado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional, sabendo muito bem que só uma minoria participaria já que 60% dos catalães são contra a separação", argumentou Verhofstadt. "E por outro lado - mesmo baseado em decisões judiciais -, o uso da força foi desproporcional."
Num apelo à razão, o eurodeputado destacou: "Na União Europeia, tentamos encontrar soluções através do diálogo político, com respeito à ordem constitucional instituída pelos tratados, especialmente no artigo 4. É hora de desescalar. Só uma solução negociada por todos os partidos políticos, inclusive a oposição no Parlamento da Catalunha, com respeito à ordem constitucional, permitirá avançar."
Pela Constituição da Espanha, toda a população deve votar em plebiscitos sobre independência e não apenas a região interessada. A Catalunha, a Galícia e o País Basco têm autonomia regional. A renegociação dos termos desta autonomia é a única saída legal para a atual crise.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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