Em mais um pronunciamento que isola os Estados Unidos do resto do mundo, com a exceção de Israel e da Arábia Saudita e aliados, o presidente Donald Trump anunciou há pouco na Casa Branca que não certificará que o Irã está cumprindo o acordo firmado em 2015 com todas as grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a Alemanha para desarmar seu programa nuclear.
Trump acusou a república islâmica de desonrar o acordo, contrariando as posições de seus próprios secretário de Estado e da Defesa, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e dos demais países signatários do acordo (Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia), mas não retirou os EUA. Ele pediu ao Congresso a adoção de novas sanções ao Irã, que chamou de "maior patrocinador do terrorismo internacional", o que não é verdade.
A grande ameaça terrorista hoje vem de grupos extremistas muçulmanos sunitas como a rede Al Caeda e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, enquanto o Irã é xiita. Apoia grupos como a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus), mas muito menos e com impacto internacional muito menor do que as monarquias petroleiras sunitas.
Nos últimos dias, o secretário da Defesa, general James Mattis; o secretário de Estado, Rex Tillerson; e o comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, general Joseph Dunford; declararam ao Congresso que o Irã está cumprindo o acordo.
O presidente também denunciou a Guarda Revolucionária do Irã, a tropa de choque da ditadura teocrática iraniana, de ser um grupo terrorista. Isso autoriza os EUA a retaliar quaisquer empresas que façam negócios com companhias ligadas à guarda.
A rejeição do acordo dificulta outras negociações internacionais dos EUA, especialmente com a Coreia do Norte. Qual o sentido de negociar com os EUA, se o próximo governo americano romper o acordo?
Até mesmo o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak, que descreve o acordo como ruim, é a favor de mantê-lo por entender que é preciso respeitar acordos internacionais.
O acordo nuclear com o Irã e a Parceria Transpacífica para criar uma zona de livre comércio, as duas grandes realizações de política externa do governo Barack Obama, estão sendo descartadas por Trump. O fim do acordo do Pacífico foi um dos primeiros atos de Trump. O acordo com o Irã não foi abandonado, mas o presidente deixa clara a intenção de fazer grandes mudanças, o que não parece negociável.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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