quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Secretário de Estado de Trump nega ter pensado em pedir demissão

Ao desmentir uma notícia da rede de televisão NBC, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, negou ter pensado em deixar o cargo durante o verão no Hemisfério Norte, diante do esvaziamento do Departamento de Estado no governo Donald Trump e de seu desapontamento com o presidente, que teria chamado de "idiota" após uma reunião ministerial em 20 de julho, noticiou o jornal The New York Times.

O vice-presidente Mike Pence teria convencido o secretário de Estado a ficar no cargo. Furioso, o presidente dos Estados Unidos comentou que era "uma notícia totalmente falsa".

"Nunca pensei em deixar este cargo", declarou Tillerson numa entrevista coletiva na manhã de hoje em que elogiou a política externa de Trump, dizendo fazer parte da equipe para "tornar a América grande de novo", o principal slogan da campanha eleitoral do presidente.

Tillerson se recusou a comentar a alegação de que teria chamado Trump de idiota. "O secretário não usa este tipo de linguagem para falar do presidente dos EUA", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert. "Ele não disse isso", insistiu.

Há apenas três dias, Trump desautorizou seu próprio secretário de Estado. Durante visita à China, Tillerson anunciou haver aberto canais de comunicação direta com o regime comunista da Coreia do Norte.

Pelo Twitter, Trump chamou de "perda de tempo" e voltou a ameaçar o ditador Kim Jong Un com o uso da força. Todos os assessores militares do presidente sabem que uma guerra seria arrasadora para as duas Coreias, com centenas de milhares, talvez milhões, de mortos.

Além de minar a ação do secretário no problema de segurança internacional mais grave de seu governo, Trump cercou-se de generais, como o chefe da Casa Civil, John Kelly; o secretário da Defesa, James Mattis; e o conselheiro de Segurança Nacional, Herbert McMaster. É o chamado "núcleo racional" da Casa Branca.

O secretário de Estado teve várias desavenças com o presidente. Tillerson pediu a Trump que certifique que o Irã está cumprindo o acordo nuclear assinado em 2015 entre as grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), a Alemanha e a República Islâmica para desarmar o programa nuclear iraniano. Trump flerta com o primeiro-ministro linha-dura de Israel, Benjamin Netanyahu, a favor de um repúdio dos EUA ao acordo.

Tillerson tenta usar o contrato de venda de armas à Arábia Saudita, de US$ 110 bilhões, para acabar com o boicote das monarquias petroleiras do Golfo Pérsico ao Catar, adotado por orientação saudita por causa da hostilidade de Trump ao Irã, com quem o Catar mantém boas relações.

A paciência do secretário se esgotou depois de uma reunião ultrassecreta no Departamento da Defesa em que Trump ameaçou demitir o alto comando militar americano na Guerra do Afeganistão e comparou a estimativa da quantidade de soldados necessários à reforma de um restaurante de alto luxo em Nova York. Aí teria sido chamado de "idiota".

Em agosto, Tillerson voltou a ter problemas quando se afastou das declarações de Trump a respeito das manifestações neonazistas em Charlottesville: "O presidente fala por si mesmo", comentou o secretário no programa jornalístico dominical Fox News Sunday. Trump não gostou.

Numa reunião no dia seguinte, Trump elogiou o assessor de Segurança Interna, Tom Bossert, que havia defendido no domingo a decisão de dar indulto ao xerife Joe Arpaio, condenado por discriminação contra latino-americanos e imigrantes ilegais no estado do Arizona.

Só depois de rever duas vezes a gravação, Trump concordou com o argumento de Tillerson de que cabe ao presidente defender suas próprias ideias.

Ao mesmo tempo, o presidente esvaziou o Departamento de Estado, que vê como um feudo de sua adversária, a ex-secretária Hillary Clinton. Afastou vários diplomatas e não nomeou subsecretários e funcionários do segundo e terceiro escalões.

Na prática, Trump paralisou a atividade da diplomacia americana, levada à frente, no caso norte-coreano, com forte empenho pessoal do secretário de Estado. Kelly e Mattis foram decisivos para a permanência de Tillerson no governo evitando uma situação ainda mais caótica em Washington. Eles entendem a importância da diplomacia e do Departamento de Estado.

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