O governo Donald Trump anunciou hoje a decisão de retirar os Estados Unidos da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) por causa de seu suposto "contínuo viés anti-israelense". Israel vai seguir o exemplo.
"Não foi uma decisão tomada facilmente", declarou o Departamento de Estado, citando, além da questão israelense, "a necessidade de reformas profundas" e "as dívidas crescentes" da Unesco.
A retirada será no fim de 2018. Como observador não membro, os EUA poderão dar ajuda e assistência técnica à organização.
"É uma decisão moral corajosa", afirmou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aplaudindo e aderindo à decisão americana. "A Unesco virou um teatro do absurdo. Em vez de preservar a história, a distorce."
Mais conhecida por designar os lugares considerados patrimônio histórico, artístico e cultural da humanidade, a Unesco fez campanhas para erradicar o analfabetismo e promover a educação, a educação sexual e a igualdade da mulher, informa a revista americana National Geographic.
Em declaração escrita, a diretora-geral da Unesco, a ex-ministra búlgura Irina Bokova, lamentou a saída dos EUA: "A universalidade é crítica para a missão da Unesco de fortalecer a paz e a segurança internacionais em face do ódio e da violência, defender os direitos e a dignidade humanas."
Não é a primeira vez que os EUA deixam a Unesco. Em dezembro de 1984, o então presidente Ronald Reagan retirou o país sob a alegação de que a entidade era contra Israel e contra o capitalismo liberal. Os EUA voltaram em 2002, depois da comoção internacional e das manifestações de solidariedade por causa dos atentados terroristas de 11 de setembro e 2001.
Desde 2011, em protesto contra a admissão da Palestina, os EUA não dão sua contribuição financeira à Unesco. A dívida está em US$ 600 milhões.
A saída da Unesco é parte de uma visão de mundo isolacionista da ultradireita americana. O governo Trump trabalha ativamente para minar o sistema multilateral criado pelos EUA sob a inspiração do presidente Franklin Roosevelt e as organizações, vistas sob como empecilhos à atuação do país no mundo.
Outro exemplo é a Organização Mundial do Comércio (OMC), onde os EUA bloqueiam a indicação de juízes para o painel de solução de conflitos, o tribunal do sistema multilateral de comércio, porque não poder vetar suas decisões.
O mecanismo de solução de conflitos foi o grande avanço da OMC, criada em 1994. Era uma reivindicação de longo prazo dos EUA.
Trump vai contra as organizações internacionais partindo do pressuposto de que os EUA têm mais a ganhar em negociações bilaterais diretas com cada país. É uma visão estreita das relações internacionais como se fosse o mundo dos negócios.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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