Apesar do autoritarismo crescente desde o golpe militar fracassado de 15 de julho de 2016, com 50 mil mil presos e 160 mil expurgados de empregos públicos, o presidente Recep Tayyip Erdogan declarou vitória na eleição presidencial de hoje. Com 97,7% dos votos apurados, o Supremo Conselho Eleitoral anunciou a reeleição de Erdogan para um novo mandato de cinco anos, com 53%. A oposição denuncia fraude.
Em segundo lugar, com 31%, ficou o social-democrata Muharrem Inge, do Partido Popular Republicano (CHP), o partido laico criado por Mustafá Kemal Ataturk, o fundador da República Turca, em 1923, depois da dissolução do Império Otomano, derrotado na Primeira Guerra Mundial.
A seguir, vieram Sehalattin Demirtes, do majoritariamente curdo Partido Democrático Popular (HDP), com 8%, que está preso sob a acusação de conspiração e apoio ao terrorismo, e Meral Aksener, da Aliança Nacional, a mulher mais votada, com 7,4%.
No poder desde 2003, Erdogan foi primeiro-ministro por três mandatos, o limite constitucional. Em 2014, depois de aumentar os poderes do Executivo, foi eleito presidente.
Líder do Partido da Justiça e do Desenvolvimento, islamista moderado, Erdogan foi se tornando cada vez mais autoritário, aumentou a influência da religião na política e resgatou símbolos do Império Otomano, o que lhe valeu o apelido de Sultão.
O golpe de 2016 foi deflagrado em protesto contra a erosão do secularismo e da democracia, o desrespeito aos direitos humanos e a perda de credibilidade internacional do país. Erdogan atribuiu o golpe ao Movimento Gulenista, liderado por Fethullah Gülen, um clérigo turco que foi seu aliado e hoje exilado nos Estados Unidos.
Desde então, a Turquia pede a extradição de Gülen, negada pelos EUA pela falta de provas convincentes da ligação do clérigo com a conspiração. A tentativa de golpe foi um sinal da disputa de poder entre os islamistas turcos.
Numa guinada autoritária, por causa do atrito com os EUA, com cada vez menos esperança de levar a Turquia à União Europeia, Erdogan se aproximou da Rússia e do Irã, em parte por causa do apoio americano a uma milícia curda que atuou como força terrestre na guerra dos EUA e aliados contra a organização terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 24 de junho de 2018
Turquia anuncia a reeleição do presidente Recep Tayyip Erdogan
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