O Departamento de Estado solicitou o envio de fuzileiros navais para proteger a representação diplomática dos Estados Unidos em Taiwan, a ilha que a República Popular da China considera uma província rebelde, revelou hoje a rede de televisão americana CNN.
A presença de fuzileiros navais americanos em Taiwan certamente será considerada em Beijim como um desafio ao regime comunista chinês. Será mais um ponto de atrito entre a China e os EUA, ao lado dos conflitos comerciais, da Coreia do Norte e do Mar do Sul da China.
Taiwan é a ilha para onde os nacionalistas comandados por Chiang Kai-shek fugiram quando a revolução comunista liderada por Mao Tsé-tung tomou o poder, em 1º de outubro de 1949, criando na prática duas chinas com a República da China em Taiwan.
O regime comunista sempre adotou a política de que só existe uma China. Quando os EUA se reaproximaram da China com as visitas do assessor de segurança nacional Henry Kissinger, em 1971, e do presidente Richard Nixon, em 1972, Mao condicionou o estabelecimento de relações diplomáticas com os EUA ao rompimento dos EUA com Taiwan. O regime exige o mesmo de todo país que quiser manter relações com a China.
A República Popular da China também tomou de Taiwan a vaga da China como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 1971.
Quando um partido favorável à independência estava prestes a vencer a eleição presidencial de 1996 em Taiwan, a China fez testes de mísseis ameaçadores. O então presidente americano, Bill Clinton, mandou uma força-tarefa de porta-aviões para o Estreito de Taiwan, de 180 quilômetros, que separa a ilha da China continental.
A China considerou uma humilhação. Desde aquela época, desenvolveu sistemas de mísseis, satélites e porta-aviões para desafiar a supremacia militar dos EUA no Leste de Ásia, que vem desde a Segunda Guerra Mundial.
Em Taiwan, com a democratização do país, as novas gerações têm um desejo crescente pela independência, considerada totalmente inaceitável pela ditadura comunista chinesa.
O Kuomintang (KMT), o partido de Chiang Kai-shek, que governou Taiwan na maior parte de sua história de relativa independência adota a política dos três nãos: não à unificação, não à independência e não à guerra. Defende a manutenção do status quo ambíguo, como quer a o regime comunista chinês, apostando numa reunificação até 2050.
Com a volta do Partido Democrático Progressista (PDP) ao poder, em 2016, aumenta a inquietação em Beijim sobre a independência de Taiwan. Há décadas, o regime comunista tenta controlar a ilha rebelde com um misto de intimidação militar e incentivos econômicos. Recentemente, aumentou a pressão militar.
Ao chegar à Casa Branca, o presidente Donald Trump, que não respeita protocolos nem políticas que não lhe agradem, recebeu cumprimentos pelo telefone da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, para revolta da China. Foi a primeira vez que isto aconteceu desde o reatamento oficial entre os dois países, em 1978.
Como a estratégia de negociações de Trump é desestabilizar a outra parte, Taiwan volta a ser uma carta importante na disputa geopolítica entre os EUA e a China, que cada vez mais constrói uma máquina de guerra à altura do seu crescente poderio econômico e quer acabar com a hegemonia americana no Leste da Ásia.
Os EUA têm vários aliados ao redor da China, o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas e a Tailândia. Com Taiwan, assumiu o compromisso de garantir a segurança da ilha. Está reforçando a cooperação militar com a Índia, a Indonésia e o Vietnã. Se tivesse o controle de Taiwan, o regime comunista chinês teria acesso desimpedido ao Oceano Pacífico.
Sem uma declaração de independência de Taiwan, é improvável que a China invada Taiwan antes de 2030, quando terá acumulado grande poderio militar. A reunificação continuará sendo um objetivo central do regime comunista, mas ele deve seguir, ao menos por enquanto, as lições de Sun Tzu no clássico A Arte da Guerra: a maior vitória é derrotar o inimigo fora do campo de batalha, sem disparar um tiro.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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