quarta-feira, 13 de junho de 2018

RÚSSIA: inverno vence o Grande Exército de Napoleão Bonaparte

No fim do Reinado de Catarina II, a Grande (1762-96), a Europa seria abalada por um terremoto político, a Revolução Francesa (1789-99). Em 1799, Paulo I (1796-1801), filho e sucessor de Catarina II, aliou a Rússia à Grã-Bretanha e à Áustria contra a França revolucionária.
Seu filho e sucessor, Alexandre I (1801-25), venceu Napoleão três vezes. Ele comprou parte da Geórgia em 1801, conquistou a atual república do Daguestão e Baku, atual capital do Azerbaijão, em 1806, anexou a Finlândia em 1808 e a Bessarábia (Moldova) em 1812.
Em 1805, Napoleão venceu a Áustria, a Rússia e a Prússia em Austerlitz. A guerra continuou até 1807, quando os russos foram arrasados em Friedland, levando Alexandre I a se retirar da Prússia Oriental.
De 1808 a 1812, a França e a Rússia estiveram em paz.

INVASÃO NAPOLEÔNICA

Em 24 de junho de 1812, o Grande Exército de Napoleão invadiu a Rússia com 600 mil homens. Os russos recuavam adotando uma política de terra queimada para destruir casas, comida e animais, tudo que pudesse ser útil aos franceses.
Na Batalha de Borodino, a maior e mais sangrenta da campanha da Rússia, em 7 de setembro de 1812, Napoleão derrotou as forças do general Mikhail Kutuzov. Ao se retirar, os russos preservaram seu poder de combate.
Napoleão chegou em 15 de setembro a uma Moscou queimada e abandonada no fim do verão no Hemisfério Norte. 
O Exército francês deixou Moscou em 18 de outubro, com 103 mil homens, para tentar fugir do inverno. Foi atacado pela retaguarda durante a retirada. Chegou a Viazma, em 3 de novembro, com 60 mil homens. Em duas semanas, perdeu 43 mil soldados.

GRANDE ALIANÇA

A Rússia aliou-se então à Áustria, à Prússia, à Suécia, ao Reino Unido e a reinos e principados alemães contra o Império Francês. Em 1813, Napoleão venceu em Lützen, Bautzen e Dresden, mas perdeu a sangrenta Batalha de Leipzig, de 16 a 19 de outubro de 1813.
Mais de meio milhão de soldados lutaram e 100 mil morreram na Batalha de Leipzig ou Batalha das Nações, a maior travada até então. A hegemonia de Napoleão sobre a Europa estava encerrada. Ele recuou para Paris. Foi perseguido pela coalizão. 

NAPOLEÃO VENCIDO

Depois de mais uma derrota da França, na Batalha de Paris, em 30 e 31 de março de 1814, o exército aliado entrou em Paris sob o comando do czar Alexandre I. O imperador abdicou e foi para o exílio na ilha de Elba.
Napoleão voltaria do exílio em 1º de março de 1815, derrubaria Luís XVIII em 20 de março, e voltaria a ser imperador por 100 dias até ser derrotado pelo Reino Unido, a Holanda e a Prússia na Batalha de Waterloo, que hoje fica na Bélgica, em 18 de junho de 1815. Preso, morreu exilado na ilha de Santa Helena, no Oceano Atlântico, em 1821.
A Rússia era uma grande potência. Foi uma das quatro grandes potências, ao lado da Áustria, da Prússia e do Reino Unido, no Congresso de Viena (1814-15), que restaurou o absolutismo monárquico destruído pela Revolução Francesa e as guerras napoleônicas. 

GUERRAS DO CÁUCASO

Com seu poderio militar revigorado, a Rússia inicia a conquista do Norte do Cáucaso. A Guerra do Cáucaso (1817-64) terminou com a conquista de repúblicas rebeldes até hoje, como a Chechênia e o Daguestão.
O poeta Alexander Pushkin escreveu o poema O Prisioneiro do Cáucaso (1821) e o escritor Leon Tolstoi lutou no Sul da Rússia, ganhando experiência para sua obra-prima Guerra e Paz, sobre a guerra contra Napoleão.
Outras guerras no Cáucaso, contra o Império Otomano e a Pérsia, levaram à anexação ao Império Russo da Geórgia, da Armênia e do Azerbaijão.

SANTA ALIANÇA

Sob a inspiração de Alexandre I, nascia a Santa Aliança, que reuniria representantes dos três ramos do cristianismo europeu: austríacos católicos, prussianos protestantes e russos ortodoxos. Durou até as revoluções de 1848 na Europa.
O chanceler austríaco Klemens von Metternich defendeu o direito de intervenção onde quer que as monarquias europeias estivessem ameaçadas. Como a Espanha e Portugal faziam parte do acordo, a Santa Aliança teria o direito de intervir nas colônias americanas.
Essa foi uma das razões que levaram o presidente dos Estados Unidos James Monroe a propor, em 2 de dezembro de 1823, a Doutrina Monroe, advertindo que qualquer tentativa de colonizar terras ou interferir na América seria considerada um ato de agressão sujeito a uma reação militar dos EUA.
Em 28 de janeiro de 1820, uma expedição russa liderada por Fabian Gottlieb von Bellingshausen e Mikhail Lazarev descobre a Antártida.

REVOLTA DEZEMBRISTA

Despótico e autoritário, Nicolau I (1825-55) tentou acabar com os movimentos nacionalistas, impedir o avanço do liberalismo e perpetuar os privilégios da nobreza. Em 14 de dezembro de 1825, 3 mil oficiais se rebelaram contra sua coroação. A Revolta Dezembrista foi derrotada e seus líderes deportados para a Sibéria.
Nicolau I conquistou Erevã, hoje capital da Armênia, e a Pérsia, e apoiou a Áustria na repressão à revolta húngara de 1848. Sua tentativa de avançar para o sul em busca do eterno sonho russo de acesso a um porto de água quente, a pretexto de proteger os lugares santos de Jerusalém, resultou na reação do Império Otomano, com o apoio da Áustria, da França e do Reino Unido, na Guerra da Crimeia (1854-56).

SERVIDÃO

A derrota mostrou o atraso da Rússia em relação a outras potências europeias e levou às reformas liberalizantes de Alexandre II (1855-81), que decretou o fim da servidão na Rússia, em 19 de fevereiro de 1861, libertando 22,5 milhões de camponeses.
Em março de 1856, o czar advertira a nobreza: “É melhor abolir a servidão de cima para baixo do que esperar até que os servos comecem a se libertar de baixo para cima”.
A servidão na Rússia é comparada à escravidão na América. Nos EUA, a abolição foi na mesma época, em 1863, em meio à Guerra da Secessão (1861-65), travada pelo presidente Abraham Lincoln para impedir a separação dos Estados Confederados do Sul.
A principal diferença era que servos e senhores tinham a mesma cultura e a mesma religião. Desde 1649, no reino do czar Aleixo I, para evitar fugas de camponeses que prejudicavam a produção, eles foram obrigados a ficar na terra mesmo quando estava gelada.
Os servos não tinham como escapar da miséria e das condições de trabalho precárias e difíceis na atrasada agricultura da Rússia. A produção agrícola tinha de esperar pelo longo inverno.
Também não podiam comprar a liberdade, como alguns escravos americanos. Estariam livres se servissem durante 25 anos o Exército da Rússia e sobrevivessem. 
Na maioria dos casos, estavam presos a seus amos e senhores, num estado de constante vulnerabilidade, sujeitos à clemência de seus donos nas horas difíceis. A riqueza de um aristocrata se media pelo número de servos e não pelo tamanho de suas terras.
Os servos podiam ser expulsos de suas terras a qualquer momento, vendidos, abusados sexualmente, alistados no Exército, enviados à Sibéria, punidos cruelmente sem causa nem prova, espancados e até mesmo mortos.

REFORMAS

Além do fim da servidão, Alexandre II aumentou a liberdade econômica, o que levou à criação de uma grande quantidade de companhias limitadas. Também investiu na rede ferroviária por razões econômicas e militares. 
A partir de 1864, houve uma reforma judiciária baseada no modelo francês. Em 1870, as principais cidades russas passam a ter governos municipais eleitos. Em 1874, foi estabelecido o serviço militar obrigatório.
Com essas profundas mudanças, a Revolução Industrial chegou à Rússia, acelerando a modernização das Forças Armadas depois da derrota na Crimeia. 
Na Guerra Russo-Turca de 1877-78, a Bulgária, a Romênia, a Sérvia e Montenegro se tornaram independentes do Império Otomano depois de quase cinco séculos. O Império Austro-Húngaro ocupou a Bósnia-Herzegovina e o Império Britânico ficou com Chipre.
Em 1867, a Rússia vendeu o Alasca para os EUA por US$ 7,2 milhões. A descoberta de ouro no estado levou a várias corridas do ouro de 1896-1909 que mais do que pagaram o preço do território, hoje estado, onde se explora muito petróleo.

ATENTADOS

A partir de 1866, Alexandre II foi alvo de pelo menos seis tentativas de assassinato por revolucionários que queriam derrubar a monarquia. 
Em 13 de março de 1881 (pelo calendário gregoriano), o movimento rebelde Vontade Popular conseguiu matá-lo num atentado a bomba em São Petersburgo.
Diante da audácia dos revolucionários, seu filho Alexandre III (1881-94), imperador da Rússia, rei da Polônia e grão-príncipe da Finlândia, foi um czar conservador que revogou algumas reformas liberais do pai.
No eterno dilema russo entre um liberalismo ocidentalizante e os eslavófilos, Alexandre III acreditava que o caminho para salvar a Rússia da agitação revolucionária era voltar aos valores da Igreja Ortodoxa, do autoritarismo e do nacionalismo russo, a ideologia de seu avô Nicolau I (1825-55).
Alexandre III tornou obrigatório o ensino de russo, inclusive para os súditos alemães e poloneses do império, mas não para os finlandeses. Ele destruiu as instituições alemãs, polonesas e suecas, e perseguiu os judeus.

POGROMS

As Leis de Maio de 1882 proibiram os judeus de morar em aldeias e zonas rurais e reduziram o número de atividades em que eles poderiam trabalhar. Foi a época dos pogroms, os massacres de judeus no Império Russo.
Houve pogroms em Odessa, Varsóvia (1881), Kichiniev (1903), Kiev (1905), Bialistok (1906) e, depois da Revolução Russa (1917), houve massacres em Lvov (1918) e Kiev (1919). 
O mais importante e significativo foi a Noite dos Cristais, 9 de novembro de 1938, na Alemanha nazista, quando 91 judeus foram mortos, 30 mil presos e enviados a campos de concentração, mil sinagogas foram queimadas e mais de 7 mil lojas e negócios de judeus foram destruídos ou danificados. 

CONSPIRAÇÃO FRUSTRADA

Depois de matar Alexandre II, o grupo revolucionário Vontade Popular acreditou que poderia assassinar o czar Alexandre III. A conspiração foi descoberta pelo Departamento para a Proteção da Ordem e da Segurança Pública (Okhrana), a polícia política da Rússia czarista.
Cinco conspiradores foram presos e enforcados em 29 de outubro de 1887, inclusive Alexander Ulianov, o irmão mais velho de Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lenin, que passaria a se interessar em política.
Lenin foi expulso da Universidade de Kazã por causa de suas atividades radicais. Em 1893, entrou para a Liga de Luta pela Emancipação dos Trabalhadores, que evoluiria para se tornar o Partido Comunista.

FOME

Em 1891, uma quebra de safra provocou fome até 1892, seguida por uma epidemia de cólera. O governo foi considerado inepto e insensível ao abordar o problema. 

ATIVISMO

O escritor Leon Tolstoi organizou sopas populares e o dratamaturgo Anton Tchekhov, que também era médico, ajudou aldeias do interior a se prevenir contra a cólera.

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