terça-feira, 12 de junho de 2018

RÚSSIA: União Soviética não resistiu ao fim da Guerra Fria

A partir de 1969, os EUA e a URSS começaram a negociar a redução dos arsenais nucleares.  Isso levou à assinatura de dois tratados quando o presidente Richard Nixon visitou Moscou, em 26 de maio de 1972, na época da chamada Détente, um degelo na Guerra Fria no início dos anos 1970s.
O Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (SALT 1) congelava o número de mísseis balísticos de longo alcance e só permitia produzir novos mísseis balísticos lançados de submarinos se um número igual de mísseis balísticos terrestres e mísseis balísticos lançados de submarinos fossem desativados.

LOUCURA

O Tratado de Mísseis Antibalísticos (1972-2002) proibiu o desenvolvimento de sistemas sofisticados de defesa antimísseis, garantindo que nenhuma superpotência pudesse se defender numa guerra nuclear. Ficou conhecido como MAD, que em inglês pode significar “destruição mutuamente assegurada” ou loucura.
O equilíbrio do terror nuclear era sacramentado em acordos entre as superpotências. No auge da Guerra Fria, os EUA tiveram um máximo de 31 mil ogivas nucleares entre 1965 e 1968 e a URSS, 40 mil ogivas nucleares, em 1986.

GUERRA DO YOM KIPPUR

Em 6 de agosto de 1973, feriado do Dia do Perdão (Yom Kippur) no calendário judaico, a maior força expedicionária arabe da história moderna, formada por Egito, Síria, Iraque e Jordânia, atacou Israel para tentar retomar os territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967. 
Cem mil soldados e mil tanques egípcios cruzaram o Canal de Suez e invadiram a Península do Sinai, mas Israel contra-atacou.
Nessa guerra, os EUA e a URSS montaram as maiores pontes aéreas militares da História para suprir seus aliados. Os EUA foram duas vezes mais eficientes. Entregaram 22.325 toneladas de tanques, peças de artilharia e munição numa ponte aérea com as forças israelenses no deserto.
Mais tarde, o então secretário de Estado, Henry Kissinger, diria que os EUA salvaram Israel.
Em 19 de outubro de 1973, o presidente do Egito, Anuar Sadat, ligou para o da Síria, Hafez Assad, para se lamentar: “Nos últimos dez dias, estou lutando também contra os EUA através das armas que eles estão enviando. Não posso lutar contra os EUA.”

ALERTA NUCLEAR

Quanto Israel cercou o 3º Exército do Egito no Sinai, a URSS ameaçou intervir militarmente. Entrou em alerta nuclear. Para Kissinger, foi a última fez que a URSS se preparou para uma guerra nuclear com os EUA.
Israel não destruiu o Exército egípcio, mas ganhou a guerra, que terminou em 20 de outubro de 1973 com mais uma derrota humilhante para os árabes. 
Em 1977, Sadat rompeu a aliança com a URSS, se aproximou dos EUA e fez um acordo de paz com Israel, assinado em 1979. A URSS deixava de ser uma superpotência no Oriente Médio. A Rússia reassumiu esta condição com a intervenção militar na guerra civil da Síria, em 30 de setembro de 2015.

INVASÃO DO AFEGANISTÃO

No fim dos anos 1970s, o envio de tropas cubanas a países africanos como Angola e a Etiópia, a invasão soviética ao Afeganistão, em 1979, as guerras civis na América Central e a vitória de Margaret Thatcher no Reino Unido acabaram com o degelo na Guerra Fria.
Os soviéticos invadiram o Afeganistão no Natal de 1979, trocaram o governo, mas nunca consolidaram seu controle muito além de Cabul. Os EUA, o Paquistão, a China e a Arábia Saudita financiaram um movimento de resistência árabe que fez do Afeganistão o Vietnã da URSS, que perdeu 25 mil soldados na guerra.
Com mísseis antiaéreos de ombro, os mujahedin acabaram com a superioridade aérea do invasor, infligindo a primeira derrota ao Exército Vermelho. Da resistência antissoviética no Afeganistão, nasceu a rede terrorista Al Caeda.

TRANSIÇÃO

Ao morrer em 10 de novembro de 1982, Brejnev foi sucedido por Yuri Andropov, ex-diretor-geral do KGB (Comitê de Defesa do Estado), a polícia política da URSS, aliás o que ficou mais tempo no cargo, de 1967-82. Era considerado herdeiro do ideólogo conservador Mikhail Suslov e foi apontado como padrinho de Mikhail Gorbachev.
Durante a Primavera de Praga e a invasão do Afeganistão, Andropov ficou com a linha dura. Era a favor de “esmagar o dissenso em todas as suas formas” e acusava “a luta pelos direitos humanos de ser parte de uma grande conspiração imperialista para minar as bases do Estado soviético”.
Em 1969, criou uma rede de hospitais psiquiátricos para internar dissidentes. Quando John Lennon foi morto, em 1980, baixou uma ordem proibindo reuniões não autorizadas em sua homenagem.
Andropov teve uma falência renal em fevereiro de 1983. Em agosto, foi internado e nunca mais saiu do hospital, morrendo em 9 de fevereiro de 1984. Ele gostaria que seu substituto fosse Gorbachev, mas a escolha recaiu sobre Konstantin Chernenko, que também estava velho e doente.
Sua eleição representava uma volta do brejnevismo. No funeral de Andropov, ele precisou de ajuda para subir na tribuna das autoridades diante do Kremlin. Em 8 de maio de 1984, a URSS anunciou a decisão de boicotar a Olimpíada de Los Angeles, uma retaliação pelo boicote aos Jogos de Moscou pelos EUA e aliados, em 1980, em repúdio à invasão soviética ao Afeganistão.

SEGUNDA GUERRA FRIA

Com a vitória do Ronald Reagan nos EUA em 1980, intensifica-se o que alguns historiadores chamam de Segunda Guerra Fria, que vai até a posse de Mikhail Gorbachev como secretário-geral do PC da URSS, em 11 de março de 1985.
Reagan ajudou os rebeldes que lutavam contra a Revolução Sandinista na Nicarágua e os governos militares da Guatemala, de Honduras e de El Salvador a enfrentar guerrilhas de esquerda. Invadiu Granada, mandou tropas para o Líbano, e decidiu instalar mísseis nucleares de curto e médio alcances na Europa Ocidental a partir de 1º de novembro de 1983.
Para pressionar a URSS e virar o jogo na Guerra Fria, Reagan gastou US$ 2 trilhões em armas, o custo das guerras do Afeganistão e do Iraque. Em  1983, anunciou o Programa Guerra nas Estrelas: os EUA iriam instalar um escudo espacial antimísseis para se defender de mísseis inimigos.
A URSS alegou que a Iniciativa de Defesa Estratégica, nome oficial do programa, violava o Tratado de Mísseis Antibalísticos. Não tinha mais condições de competir econômica e militarmente com os EUA, o que levou à ascensão de Mikhail Gorbachev.
Em 1º de setembro de 1983, um caça da Força Aérea da URSS derrubou um Boeing 747 da Korean Air que fazia uma rota pelo Polo Norte, matando todas as pessoas a bordo, inclusive um deputado federal americano. Foi um dos últimos tiros da Guerra Fria.

GLASNOST

Ao chegar ao poder na URSS, em 1985, Mikhail Gorbachev declarou que o partido e o sistema estavam esclerosados. Precisavam de profundas reformas políticas, a glasnost (abertura), que acabou com a censura, e da perestroika (reestruturação da economia), que reintroduziu elementos da economia de mercado.
Essas reformas se estenderam a todo o Bloco Soviético, com maior ou menor resistência dos líderes e das burocracias comunistas. Estas últimas se mostraram irreformáveis.

DESARMAMENTO

Um dos objetivos era reduzir os gastos com defesa, que representavam até 25% do orçamento soviético.
Logo, Gorbachev iniciou uma série de encontros de cúpula com Reagan que levaram ao primeiro acordo de redução de armas nucleares, na verdade de eliminação de todo um tipo de arma, os mísseis nucleares e convencionais com alcance 500 a 5,5 mil km, assinado em 8 de dezembro de 1987 na Casa Branca.

ELEIÇÕES LIVRES

Em dezembro de 1988, o Soviete Supremo da URSS aprovou a criação do Congresso dos Deputados do Povo, eleito diretamente em março de 1989, com uma reserva de um terço das cadeiras para o partido.
No Congresso, surgiu um grupo de oposição liderado pelo reformista Boris Yeltsin, que fora secretário do partido em Moscou, cargo equivalente a prefeito, mas fora afastado por querer acelerar as mudanças.
Em 29 de maio de 1990, Yeltsin foi eleito presidente do Soviete supremo da Rússia e, em 12 de junho de 1991, eleito diretamente presidente da Federação Russa, o que o tornou a autoridade com o mais forte mandato popular do país.

REVOLUÇÕES LIBERAIS

Gorbachev retirou as tropas do Afeganistão e ajudou a negociar a paz na América Central, na África e na Ásia. Acabou com a censura, tentou criar um Estado de Direito na URSS e não se opôs às revoluções democráticas na Europa Oriental. Mas não conseguiu recuperar a economia nem reformar a burocracia comunista.
Em 2 de maio de 1989, a Hungria abriu a cortina de ferro. Os moradores dos países do Bloco Soviético puderam viajar para o Ocidente via Áustria. Em junho, o sindicato livre Solidariedade ganhou as eleições na Polônia. Em 9 de novembro de 1989, caiu o Muro de Berlim.
Com a reunificação da Alemanha, em 3 de outubro de 1990, os aliados vitoriosos na Segunda Guerra Mundial finalmente renunciaram a seus direitos sobre a Alemanha.

FIM DA URSS

Em 18 de agosto de 1991, Gorbachev foi alvo de um golpe da linha dura liderada pelo vice Guenadi Yanaiev quando estava em férias na Crimeia. O presidente da Rússia, Boris Yeltsin, resistiu ao golpe em Moscou e se tornou o principal líder do país. 
Gorbachev voltou sem poder. Foi humilhado por Yeltsin. Tentou ressuscitar o projeto de criar a Comunidade de Estados Independentes (CEI) como sucessora da URSS.
Em 8 de dezembro de 1991, o Acordo de Minsk, entre Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, as três repúblicas eslavas que eram o núcleo central do país, acaba com a URSS. Gorbachev anuncia a dissolução da União no Natal. Em 25 de dezembro de 1991, a bandeira vermelha é arriada no Kremlin e substituída pela tricolor da Rússia. Era o fim da pátria do comunismo.

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