terça-feira, 12 de junho de 2018

URSS: ascensão de Stalin levou a uma era de terror

O fracasso de mais uma revolução na Alemanha fortaleceu a tese de Stalin de desistir da revolução mundial para se concentrar na defesa da URSS e do “socialismo num país só”, tese aprovada no 14º Congresso do PC, em 1925.
Em 1924, no prefácio de seu livro As Lições de Outubro, Trotsky critica a atitude de Stalin em relação à revolta alemã e a indecisão de Kamenev e Zinoviev em 1917.
Em 1925, a aliança Stalin-Zinoviev se rompeu. No verão de 1926, Stalin e Bukharin lutavam contra a Oposição Unida de Trotsky, Kamenev e Zinoviev na batalha decisiva pelo controle do partido, perdida conferência do partido de outubro de 1926, quando Kamenev foi excluído do Politburo.

REVOLUÇÃO CHINESA

A China foi um tema importante do debate do PC da URSS. Stalin não acreditava em revolução socialista num país agrário e atrasado como a China do início do século 20. 
Trotsky via oportunidade para testar sua teoria da revolução permanente. Foi contra a política de fusão com o Kuomintang (KMT), o partido nacionalista liderado por Chiang Kai-shek, imposta por Stalin ao Partido Comunista chinês, para formar uma “frente popular”.
No meio da chamada Expedição do Norte (1926-28) para derrotar os senhores da guerra e unificar a China, em 12 de abril de 1927, o KMT massacrou os comunistas em Xangai, matando pelo menos 300 pessoas. Os expurgos e massacres se espalharam por todo o país. 
Era o início de uma longa guerra civil chinesa que seria interrompida pela invasão do Japão em 1937 e retomada depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, para terminar com a vitória comunista em 1º de outubro de 1949. 
Sob pressão do KMT, em 1934, o Exército Popular de Libertação de Mao Tsé-tung e Chu Enlai, com 100 mil guerrilheiros, iniciou a Longa Marcha, uma fuga de 16 de outubro de 1934 a 20 de outubro de 1935 por 10 mil km para manter sua capacidade de combate.
Na origem do conflito entre as duas superpotências comunistas durante a Guerra Fria, está a política de aliança com a classe dominante que Stalin impôs ao PC  chinês para formar uma “frente popular”.

EXPURGO DE TROTSKY

Trotsky e Zinoviev foram expurgados em 12 de novembro de 1927. Trotsky foi enviado para o exílio interno em Alma Ata, no Casaquistão, em 31 de janeiro de 1928, e expulso da URSS em 1929.
Depois de passar pela Turquia, França e Noruega, em setembro de 1936, Trotsky foi para o México, a convite do pintor muralista Diego Rivera. Com o aumento da repressão stalinista, toda sua família foi morta na URSS, com a exceção de sua filha Nina. 

ASSASSINATO

O próprio Trotsky foi assassinado pelo agente stalinista Ramón Mercader em 21 de agosto de 1940, em sua casa em Coyoacán, na periferia da Cidade do México, história contada no filme O Assassinato de Trotsky (1972), com Richard Burton como Trotsky e Alain Delon no papel do assassino.
No exílio, Trotsky escreveu vários livros, inclusive A Revolução Traída: a falsificação stalinista da História, uma denúncia do regime brutal que tomara conta da URSS. Em 1938, criou a Quarta Internacional na esperança de salvar o movimento comunista do stalinismo.
Trotsky previu que a burocratização destruiria a revolução socialista e os burocratas do partido seriam a nova burguesia. É mais ou menos o que aconteceu com o fim da URSS. Quem tinha privilégios dentro do sistema se beneficiou das privatizações e enriqueceu de um dia para o outro. Virou oligarca.

INDÚSTRIA PESADA

Vencida a batalha pelo controle do partido, Stalin lançou em 1928 o 1º Plano Quinquenal de Desenvolvimento para substituir a nova política econômica de Lenin pelo planejamento central e construir uma economia socialista. A meta central era criar uma indústria pesada e de defesa.
Desde que leu Minha Luta, o livro em que Adolfo Hitler expõe a ideologia nacional-socialista (nazista), Stalin considerava inevitável uma nova guerra com a Alemanha. Tendo em vista o medíocre desempenho do Exército Imperial czarista na Primeira Guerra Mundial, e especialmente sua incapacidade tecnológica e industrial para travar uma guerra moderna, o ditador soviético considerava urgente industrializar a URSS.
Na Primeira Guerra Mundial, a Rússia contara com seus aliados na Tríplice Entente (França e Reino Unido), mas até munição faltara. Durante a Guerra Civil, eles tinham apoiado as forças anticomunistas. Com o “socialismo num só país”, a URSS teria de garantir sua própria defesa.

COLETIVIZAÇÃO

Em 1929, Stalin acrescentou ao plano a coletivização da agricultura com a criação das fazendas coletivas, os colcozes, destruindo na prática os kulaks, os agricultores enriquecidos que formavam uma pequena burguesia rural. Como eram proprietários de terras, foram declarados “inimigos de classe”.
Oskulaks, que tinham de entregar a produção ao Estado durante a Guerra Civil, tinham voltado ao mercado com a nova política econômica. Mais uma vez, poderiam ser presos se vendessem a produção excedente.
Em 30 de janeiro de 1930, o Politburo do Comitê Central do PC decidiu acabar com os kulaks. “Esta classe deve ser esmagada numa batalha aberta, deve ser privada de suas fontes de existência e desenvolvimento”, decretou Stalin.

FOME

A coletivização da agricultura causou a grande fome de 1932-33. Em 1932, a produção de grãos caiu 32%. Como tinham de entregar seus animais ao Estado antes de entrar nas fazendas coletivas, a maioria dos camponeses preferia matá-los e vender o que fosse possível no mercado negro.
O rebanho bovino caiu de 33,2 milhões em 1928 para 27,8 milhões em 1941, o de porcos de 27,7 para 27,5 milhões e o de ovelhas de 114,6 para 91,6 milhões no mesmo período. Com a Segunda Guerra Mundial, só no fim dos anos 1950s, depois da morte de Stalin, o rebanho soviético recuperou os níveis de 1928.
Ao todo, a repressão política e a fome mataram de 6 a 8 milhões de soviéticos de 1930 a 1933, pelo menos 3 milhões na Ucrânia, onde a revolta contra Stalin era tanta que os nazistas foram recebidos como libertadores na Segunda Guerra Mundial.
Cerca de 24 milhões de camponeses deixaram o campo. Mais de 1,8 milhão foram enviados para campos de trabalhos forçados na Sibéria.

TERROR

Depois da guerra contra os pequenos proprietários rurais, de 1934 a 1939, Stalin lançou uma nova fase do terrorismo de Estado soviético, com um grande expurgo de funcionários públicos, membros do partido e das Forças Armadas, e uma vigilância constante de tudo e de todos.
O Estado que tinha nascido para acabar com os conflitos sociais e se extinguir transformava-se num dos Estados mais poderosos, arbitrários e implacáveis da História.
Em 1º de dezembro de 1934, o líder bolchevique Serguei Kirov foi morto. O assassino, o jovem militante do partido Leonid Nicolaiev e 13 supostos cúmplices foram condenados e mortos.
Stalin usou o caso como pretexto para denunciar uma suposta conspiração para matar a liderança soviética e iniciar uma perseguição implacável a seus adversários reais e imaginários.

PROCESSOS DE MOSCOU

Kamenev e Zinoviev, os ex-companheiros de Stalin na troika, foram julgados considerados moralmente cúmplices da morte de Kirov. Acusados em 1936 de trotskismo e de formar uma organização terrorista para tentar matar Stalin, eles negaram qualquer ligação com Trotsky.
Sob promessa de garantia de vida para eles e suas famílias, eles admitiram confessar os crimes de que eram acusados e fazer uma autocrítica em público.
Todos os 16 réus do caso Zinoviev-Trotsky foram condenados à morte em 24 de agosto de 1936 pelo Colégio Militar da Suprema Corte da URSS, presidido pelo juiz Vassili Ulrikh, sendo Andrei Vichinsky o procurador-geral. Foram executados nos porões da prisão Lubianka, em Moscou.
No segundo dos processos de Moscou, 17 réus, entre eles Nikolai Bukharin, Grigori Sokolnikov e o marechal Mikhail Tukhachevsky, foram julgados de 23 a 30 de janeiro de 1937 por supostas ligações com um Centro Trotskista Antissoviético. Treze foram fuzilados e os outros enviados a campos de trabalhos forçados.

EXPURGOS

Ao fazer a autocrítica, um dos réus, Karl Radek, um bolchevique nascido na Áustria, acusou “uma terceira organização da escola trotskista”, dando pretexto para uma ampla onda de expurgos e perseguições políticas.
Dos 139 candidatos a membros do Comitê Central eleito no 17º Congresso do PC, em 1934, 115 foram presos. Dos 1.966 delegados presentes no congresso, 1.108 foram presos.
O terceiro grande processo julgou, em março de 1938, 21 réus por pertencer a um suposto “bloco de direitistas e trotskistas” liderado por Nikolai Bukharin, ex-líder da Internacional Comunista, o ex-primeiro-ministro Alexei Rikov e Genrikh Yagoda, ex-chefe do NKVD. Os principais acusados foram fuzilados.
No auge da perseguição, em 1937 e 1938, a polícia política stalinista NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos) prendeu mais de 1,5 milhão de pessoas, das quais 681.692 foram mortas, numa média de mais de mil execuções por dia, revelaram documentos desclassificados depois do fim da URSS.

GUERRA CIVIL ESPANHOLA

A URSS estabeleceu relações com os EUA em 1933 e entrou para a Liga das Nações em 1934. Quando começou a Guerra Civil Espanhola (1936-39), Moscou apoiou ativamente o governo republicano contra os falangistas de Francisco Franco, que por sua vez tinham a ajuda da Alemanha.
Moscou forneceu centenas de tanques e aviões de combate, além de milhares de assessores militares e de mobilizarem pelo menos 40 mil voluntários das Brigadas Internacionais através da Internacional Comunista. Como stalinistas e anarquistas chegaram a lutar entre si nas ruas de Barcelona, Stalin foi acusado também de trair a revolução espanhola.

CONSTITUIÇÃO

Em 1936, uma nova Constituição estabelecia o regime comparado a uma escala rolante. Se o cidadão cumprisse fielmente as ordens e ficasse quieto no seu lugar, sua ascensão estaria garantida pelo desenvolvimento do socialismo.
No papel, garantia o direito à liberdade religiosa e ao sufrágio secreto, direto e universal. Stalin dizia que numa eleição não importa o voto, importa o resultado. O PC era a “vanguarda do povo trabalhador na sua luta para fortalecer e desenvolver a sociedade socialista” e, portanto, o único partido legal.

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