Eles apertaram as mãos como velhos camaradas. Sorriram para as câmeras diante de bandeirinhas dos dois países. O presidente Donald Trump tomou um ar professor. O sanguinário ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un, parecia um jovem estudante deslumbrado. O clima era de paz e concórdia.
Seis meses depois de trocarem ameaças de morte ferozes e ofensas pessoais, Trump e Kim se encontraram hoje em Cingapura para iniciar um diálogo pela paz. Os Estados Unidos exigem a "desnuclearização completa, irreversível e verificável, enquanto a Coreia do Norte quer reconhecimento, garantias de segurança e o fim das sanções internacionais que sufocam a frágil economia do regime comunista.
Trump e Kim ficaram sozinhos com os tradutores durante 45 minutos. Depois, houve uma reunião de trabalho com os assessores. Neste momento, há um almoço de trabalho.
A principal oferta dos EUA, além de garantir a manutenção de Kim no poder, é promover o desenvolvimento econômico da Coreia do Norte, um país que parou no tempo em comparação com a Coreia do Sul. Trump vai sair cantando vitória, como de costume, mas por enquanto o grande vencedor é o ditador norte-coreano.
Kim Jong Un acaba de conseguir o que a Coreia do Norte sempre quis: negociações diretas com os EUA, ignorando a Coreia do Sul e o Japão, que o regime stalinista de Pyongyang sempre descreveu como "fantoches de Washington".
De pária da sociedade internacional, depois de sua mensagem conciliatória de Ano Novo, iniciando a reaproximação com a Coreia do Sul, Kim conseguiu encontros com os presidentes dos EUA e da Coreia do Sul, e com o ditador da China, Xi Jinping, seu maior aliado. Com sua disposição para o diálogo, a China e a Rússia estão prontas a relaxar as sanções internacionais para garantir a sobrevivência econômica do regime comunista dinástico.
Sem ceder em absolutamente nada, Kim conseguiu reconhecimento internacional, câmeras e holofotes para consolidar sua imagem interna de estadista dedicado a garantir um futuro melhor para o país mais fechado do mundo.
O mais difícil começa em seguida. As negociações para desarmar o programa nuclear da Coreia do Norte e a implementação de um possível acordo devem levar anos. A diferença agora é o contato direto e pessoal dos dois líderes. Mas há muito mais em jogo.
Interessados diretos no resultado final, a China, o Japão e a Coreia do Sul, e em escala menor a Rússia, vão tentar influenciar as negociações. Aos governos de Tóquio e Seul, não serve, por exemplo, um acordo que elimine os mísseis intercontinentais, capazes de atingir os EUA, mas permite os de curto e médio alcances.
A China gostaria da retirada total dos 28,5 mil soldados americanos estacionados na Coreia do Sul, mas é improvável que os EUA aceitem isso mesmo se as duas Coreias finalmente assinarem um acordo de paz, pondo fim à Guerra da Coreia (1950-53).
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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