O presidente Vladimir Putin convidou hoje o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un, a visitar a Rússia em setembro, durante a realização do Fórum Econômico Oriental, noticiou a agência Reuters. O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, poderá aproveitar a ocasião para também manter contato direto com Kim.
Diante da abertura de negociações diretas entre os Estados Unidos e o regime comunista norte-coreano, a Rússia, como país vizinho, não quer ficar de fora do processo, assim como a China, a Coreia do Sul e o Japão. Kim se encontrou duas vezes neste ano com o ditador chinês, Xi Jinping, e outras duas com o presidente sul-coreano, Moon Jae In.
A Rússia tem relações históricas com a Coreia do Norte. Na verdade, o ditador soviético Josef Stalin criou o país ao invadir o Norte da Península Coreana no fim da Segunda Guerra Mundial. O regime comunista norte-coreano foi fundado com o modelo stalinista e o culto da personalidade dos seus líderes.
Nos anos 1970s e 1980s, a União Soviética era responsável pela metade do comércio exterior norte-coreano. Projetos conjuntos responderam por 70% da energia elétrica, 50% dos fertilizantes químicos e 40% dos metais ferrosos produzidos na Coreia do Norte, que pagou em parte mandando prisioneiros fazer trabalhos forçados na Sibéria. O país perdeu seu maior patrono com o fim da URSS, em 1991.
Com a ascensão da China, que lutou ao lado da Coreia do Norte na Guerra da Coreia (1950-53), o regime comunista chinês tornou-se o maior aliado da ditadura stalinista de Pyongyang e nos últimos anos praticamente o único. A China é hoje responsável por 90% do comércio exterior norte-coreano.
Como o grande sonho de Putin é restaurar o poder imperial da URSS, a Rússia não pode ficar totalmente fora das negociações. Entre seus maiores objetivos, está minar a democracia ocidental e esvaziar o poder dos EUA.
Assim como a China, com a redução da ameaça de confrontação nuclear entre EUA e a Coreia do Norte, a Rússia defende o alívio das sanções impostas ao regime norte-coreano, enquanto os EUA só admitem suspendê-las quando o país abandonar as armas nucleares. Mas as trapalhadas e a agressividade de Kim no ano passado incomodaram os chineses, que não aceitam o risco de uma guerra na sua fronteira.
Putin está pronto para aproveitar oportunidades surgidas de possíveis divergências entre a China e a Coreia do Norte. A Rússia tem capacidade de superar a influência da China sobre Pyongyang, mas pode diminuir a pressão chinesa sobre Kim.
A entrada de jogadores de peso como a Rússia é um indicador de como será difícil a tarefa dos EUA de chegar a um acordo para desnuclearizar a Península Coreana e chegar a um acordo de paz definitivo na Guerra da Coreia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário