quarta-feira, 20 de junho de 2018

Masaya se declara "cidade livre da ditadura" de Ortega na Nicarágua

A cidade de Masaya, berço da revolução que levou ao poder em julho de 1979 a Frente Sandinista de Libertação Nacional e seu comandante, Daniel Ortega, agora lidera a luta para se livrar de sua ditadura na Nicarágua. 

Há dois meses, a cidade resiste à reação do governo contra a onda de manifestações de protesto contra seu autoritarismo. Agora, proclamou-se "cidade livre da ditadura".

A chefe da polícia de Masaya, comissário Ramón Avellán, chegou a ficar encurralado na chefiatura de polícia durante 13 dias. Todas as noites a população ia até lá às 22h e pressionava o comissário a se entregar. Foi resgatado ontem numa operação policial que deixou pelo menos três mortos e mais de 30 feridos.

Pelo menos 180 pessoas foram mortas desde abril, quando os nicaraguenses se revoltaram contra uma reforma da Previdência Social que aumentava as contribuições e reduzia pensões e aposentadorias. É a pior crise do país.

"Estamos armados com a razão", declarou a Resistência Cívica de Masaya. "Estamos nos auxiliando com barricadas, pedras e morteiros, em desigualdade evidente e notória com as tropas covardes e assassinas da ditadura", explicou a nota.

"O ditador Ortega e [a vice-presidente e sua mulher Rosario] Murillo não cumpriram a promessa de desarmar as forças parapoliciais, ao contrário, convocou velhos combatentes, ex-reservistas e sua militância sandinista, que fortemente armados impõe o terror e a morte em todo o território nacional",  acrescentam os rebeldes.

A Resistência Cívica de Masaya exige o fim do regime: "A única maneira de recuperar a confiança e a  segurança dos cidadãos é com a renúncia do casal presidencial, que exigimos imediatamente. Exigimos também que se forme uma junta de salvação nacional de cinco membros dos setores beligerantes e representativos da nação que faça reformas institucionais e legislativas que permitam organizar eleições livres e transparentes em 180 dias."

Ontem, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ex-chanceler uruguaio Luis Almagro, deu sua solidariedade aos rebeldes: "O povo de Masaya demonstrou seu heroísmo nas páginas mais escuras da história da Nicarágua. Condenamos qualquer tipo de ataque que atente contra a vida e a segurança dos habitantes de Masaya."

Ortega governou a Nicarágua, primeiro como um dos nove comandantes, em 1979, depois da vitória da revolução. Foi eleito presidente em 1984 em eleição boicotada pela oposição sob pressão do então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e derrotado por Violeta Chamorro em 1990.

Voltou ao poder pelo voto em 2007 em aliança com a oligarquia somozista que um dia combateu, mudou as leis e a composição do supremo tribunal para aprovar a reeleição sem limites e se eternizar no poder. Por alguns anos, contou com o petróleo subsidiado da Venezuela de Hugo Chávez. Com o colapso econômico sob Nicolás Maduro, a fonte secou.

A repressão violenta desde abril suscitou comparações com o ditador Anastasio Somoza Debayle, derrubado pela FSLN em 17 de julho de 1979. Mais uma vez, não será suficiente para sustentar o ditador da vez.

O diálogo nacional intermediado pela Igreja Católica entrou em crise na segunda-feira, quando a Aliança Cívica, que reúne estudantes, acadêmicos, camponeses, empresários e representantes da sociedade civil, denunciou que o governo não enviou cartas convidando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos e a União Europeia para investigar os crimes cometidos na repressão às manifestações de protesto.

Enquanto as cartas não forem enviadas, o diálogo nacional está suspenso.

Nenhum comentário: