Sob intensa pressão externa e interna, inclusive dentro do próprio Partido Republicano, o presidente Donald Trump recuou hoje pela primeira vez e baixou um decreto suspendendo a separação de menores dos pais que entram ilegalmente nos Estados Unidos. As famílias terão o direito de ficar juntas mesmo quando os pais forem presos por entrar no país sem autorização.
Nos últimos dias, o mundo ouviu o choro de bebês e de crianças de dois, quatro anos ou mais anos de idade aterrorizadas por serem separadas de seus pais por uma política desumana e cruel de "tolerância zero" do governo Trump contra a imigração ilegal. Como os imigrantes ilegais devem ser processados e a lei dos EUA não permite a prisão de crianças inocentes, o governo alegou os filhos não poderiam ficar juntos com os país.
A separação de filhos dos pais, a não ser em casos de condenação destes, é um princípio fundamental da democracia liberal. As imagens da fronteira com o México lembraram os regimes nazistas e comunistas.
Desde abril, cerca de 2,3 mil crianças foram separadas dos pais, o que causar danos psicológicos permanentes. Trump faz chantagem para pressionar o Congresso a aprovar uma lei de imigração linha-dura e destinar US$ 20 bilhões para construir um muro na fronteira com o México. No fundo, está de olho nas eleições de meio de mandato, em novembro deste ano, quando o Partido Republicano corre o risco de perder a maioria na Câmara e no Senado.
Por que Trump voltou atrás pela primeira vez sob pressão da opinião pública? O jornal The Washington Post aponta três razões. Quando perdeu o apoio do senador ultraconservador Ted Cruz, o presidente sentiu que ficaria isolado. Os deputados e senadores republicanos estavam envergonhados e constrangidos com o choro de bebês.
A demonização dos imigrantes faz parte da estratégia eleitoral de Trump para novembro, aliás desde o lançamento da candidatura, quando chamou os mexicanos de traficantes, assassinos e estupradores. Mas a prisão de crianças enfrentou forte oposição do eleitorado, a começar pelas mulheres.
Cerca de 70% das mulheres repudiam a separação de mães e filhos. É uma parcela muito importante do eleitorado. A própria mulher do presidente, Melania Trump, e a primeira-filha, Ivanka Trump, passaram os últimos dias tentando persuadir Trump a recuar, acrescenta The Washington Post.
Melania Trump e a ex-primeira-dama Laura Bush, moradora do Texas, protestaram publicamente. Ivanka se manifestou hoje, agradecendo ao pai por "resolver o problema". É um problema que ele próprio criou.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
Trump recua e decreta fim da separação de famílias de imigrantes ilegais
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