quinta-feira, 7 de maio de 2015

Reino Unido vota em eleições que podem desmanchar o país

As urnas estão abertas nesta quinta-feira, 7 de maio de 2015, de 7h (3h em Brasília) às 22h (18h em Brasília) para as eleições dos 650 deputados da Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico. 

Cerca de 45 milhões de eleitores estão aptos a votar em 50 mil seções eleitorais. Nas eleições anteriores, em 2010, 65% compareceram às urnasMais do que o próximo governo, está em jogo o futuro do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte.

Se for reeleito, o primeiro-ministro conservador David Cameron promete convocar até 2017 um referendo sobre a permanência na União Europeia. Sair do bloco europeu pode ser desastroso para o país que é hoje a quinta maior economia do mundo e provavelmente levaria à independência da Escócia.

Com 34% nas preferências, é improvável que o Partido Conservador consiga formar o próximo governo sozinho e nem mesmo com a ajuda do Partido Liberal-Democrata, liderado pelo vice-primeiro-ministro Nick Clegg parceiro menor na coalizão, que deve ficar com 9% dos votos. O PLD paga o preço de ser governo sem mandar de fato.

Os conservadores perderam votos à direita para o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), que culpa os imigrantes por todos os problemas do país e quer sair da UE. Cameron fez campanha em cima da recuperação econômica. O Reino Unido foi o país rico que mais cresceu em 2014, 2,8%, mas o ritmo caiu para 0,2% no último trimestre, e a retomada desigual favorece os ricos. Elitistas, os conservadores são vistos como distantes da realidade do cidadão comum.

Popular entre ingleses brancos desempregados e a classe média empobrecida pela crise, o UKIP, torna o Partido Conservador ainda mais eurocético ao roubar-lhe o eleitorado menos educado, alimentando o antieuropeísmo que pode levar o reino a deixar a UE. Tem 12% das preferências.

O outro candidato a liderar o próximo governo é o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband. Com 33% nas pesquisas, os trabalhistas não conseguirão formar o próximo governo sozinhos, em parte por causa do avanço do Partido Nacional Escocês (PNE).

Depois de perderem o referendo sobre a independência da Escócia em 2014 por 55% a 45%, os nacionalistas se encaminham para eleger todos os deputados escoceses do Parlamento Britânico, do qual querem se separar. Na Câmara dos Comuns recém dissolvida, a oposição trabalhista tinha 40 dos 59 deputados da Escócia.

Isso significa que numa Câmara sem maioria absoluta, o PNE e sua nova líder, Nicola Sturgeon, a grande estrela desta campanha eleitoral, podem ter um papel decisivo na formação de um governo trabalhista. Seu principal objetivo declarado é derrotar os conservadores.

Na reta final da campanha, Miliband prometeu não fazer qualquer acordo capaz de comprometer a unidade do Reino Unido. Aos nacionalistas escoceses, naturalmente, só interessa barganhar concessões que aumentem a autonomia rumo à independência.

Assim, ganham conservadores ou trabalhistas, estas eleições ajudam o movimento nacionalista escocês, que terá uma representação no Palácio de Westminster proporcionalmente como maior do que sua votação.

Como o Reino Unido adota o voto distrital em turno único, historicamente sempre houve uma tendência ao voto útil nos dois grandes partidos. Desta vez, além do UKIP e do PNE, o Partido Verde e o partido nacionalista galês Plaid Cymru ajudam a atrapalhar a eleição de uma maioria absoluta. Mas, por causa do voto distrital, os pequenos partidos terão representação muito inferior às que teriam com o voto proporcional.

A primeira grande dúvida hoje é que governo sairá das eleições. A segunda é se conseguirá manter a unidade de um dos países mais importantes dos últimos séculos, que construiu o maior de todos os impérios e legou à humanidade o habeas corpus, a primeira Constituição, a Magna Carta, o júri popular, a língua inglesa, o parlamentarismo e a Revolução Industrial.

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