Sem dólares para movimentar sua economia, apesar de ter uma das maiores jazidas mundiais de petróleo, a Venezuela fez um acordo com o banco americano Citibank para trocar parte de suas reservas em ouro por US$ 1 bilhão, revelou ontem o jornal inglês Financial Times.
O acordo alivia temporariamente o governo socialista de Nicolás Maduro, que enfrenta a maior inflação do mundo, de 80% ao ano, podendo chegar a 150% até o fim do ano; escassez permanente de medicamentos e produtos básicos como leite, carne, farinha de trigo e papel higiênico; e ainda perdeu receita com a queda pela metade nos preços do petróleo nos últimos dez meses.
A Venezuela prometeu trocar 1,4 milhão de onças troy (31,1 gramas), o equivalente a 3,5 mil barras ou 43,54 toneladas de ouro, por US$ 1 bilhão em dinheiro, sobre o qual vai pagar juros.
Aos preços de hoje, esta quantidade de ouro vale quase US$ 1,7 bilhão. O negócio uma grande margem de segurança ao banco caso o preço do ouro caia no mercado internacional. O ouro baixou 36% depois de chegar ao pico em 2011, mas subiu 1,8% em 2015. A onça troy está em cerca de US$ 1,2 mil.
Por causa do caos econômico instaurado pelo "socialismo do século 21" do falecido caudilho Hugo Chávez, a economia venezuelana deve recuar até 7% em 2015. Com a queda na arrecadação, o governo Maduro está imprimindo bolívares para financiar um déficit orçamentário de 20% do produto interno bruto. O resultado é a inflação projetada para chegar a 150% ao ano.
Com as reservas em moedas fortes em US$ 19 bilhões em abril, o menor nível em 11 anos, depois de vender US$ 1 trilhão em petróleo desde a ascensão de Chávez ao poder em 1999, só restou à Venezuela recorrer às reservas em ouro. São cerca de 377 toneladas.
Em seu duelo infantil com os Estados Unidos, Chávez prometeu livrar a Venezuela da "ditadura do dólar". Orientou o banco central a vender dólares e comprar ouro. Há quatro anos, com medo de processos pela desapropriação da empresas estrangeiras, levou a maior parte do ouro depositado no exterior para o país.
Agora, seu sucessor troca o ouro porque a Venezuela precisa de dólares que nunca deveriam faltar por causa das exportações de petróleo. Hoje em dia, nada na Venezuela funciona como num país normal. A última novidade é uma redução da jornada de trabalho dos funcionários públicos de oito para cinco horas por dia para economizar energia num dos maiores produtores mundiais de petróleo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário