Sob pressão dos partidos de extrema direita, antiliberais e anti-imigrantes, a União Europeia vai oferecer asilo para apenas 5 mil refugiados. Deve repatriar a grande maioria dos imigrantes ilegais que se aventuram pelo Mar Mediterrâneo para chegar à Itália, Grécia ou Malta, 150 mil só em 2014 e mais de 36 mil até agora em 2015, quando pelo menos 1.750 morreram na travessia, noticiou hoje o jornal inglês The Guardian.
Uma reunião de cúpula da emergência da UE discute hoje em Bruxelas um plano de dez pontos para enfrentar a crise, inclusive um reforço do patrulhamento naval e combate às máfias do tráfico humano, que terá o orçamento triplicado, informou a televisão pública britânica BBC. Mas a Europa não está disposta a aceitar este novo êxodo de miseráveis.
Entre as propostas, com o apoio da França, a Itália defende "esforços sistemáticos para identificar, capturar e destruir os barcos antes que sejam usados por traficantes". Os pescadores da Líbia, de onde sai a maior parte dos navios negreiros do século 21, podem ser prejudicados.
Pela lei europeia, refugiados de guerra têm direito a asilo político. Muitos fogem das guerras civis no Iraque e na Líbia, outros de países onde houve o colapso do Estado, como a Somália. Os outros devem ser considerados imigrantes econômicos, que não têm o direito de permanecer na Europa.
O problema ficou mais evidente com o fim do inverno no Hemisfério Norte, que encorajou traficantes humanos e suas vítimas a lotar barcos pesqueiros frágeis na esperança de atingir o eldorado europeu. No fim de semana passado, 800 pessoas morreram num único naufrágio.
Em 2014, a Operação Mare Nostrum (Nosso Mar), da Marinha da Itália, salvou cerca de 10 mil pessoas por mês a um custo de US$ 10 milhões mensais. Neste ano, cortou o orçamento dentro do programa de ajuste das contas públicas. Agora, espera ajuda de seus aliados da UE.
"Espero que nos próximos dias tenhamos um roteiro, um grande acordo sobre o que fazer", declarou ao chegar a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. "É uma questão dos valores europeus, de suprema importância."
Para o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, "as propostas são uma reciclagem do que ouvimos antes. A diferença agora é maior vontade política", sob impacto da tragédia. Nem tanto.
A duas semanas das eleições gerais, sob pressão do Partido da Independência do Reino Unido, o primeiro-ministro conservador britânico David Cameron, ofereceu dois barcos-patrulha e três helicópteros para socorrer os refugiados e imigrantes desde que sejam enviados a outro país. O oportunismo e a miopia política de olho no poder comprometem uma resposta conjunta europeia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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