sexta-feira, 21 de março de 2014

Brasil se omite nas crises internacionais

Um país que ambiciona ser membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como o Brasil, deveria se manifestar em todas as situações de risco à paz, a começar pela guerra civil na Síria, em que a omissão é cruel e injustificável diante de 140 mil mortes nos últimos três anos.

De que adianta a "responsabilidade ao proteger" defendida pela presidente Dilma Rousseff num de seus pronunciamentos na Assembleia Geral da ONU, se a sociedade internacional não consegue articular uma proposta de solução para a guerra civil síria?

No caso da Ucrânia, há o medo de ferir a sensibilidade do novo czar de todas as Rússias, Vladimir Putin, nosso sócio no heterogêneo grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Bastaria reafirmar dois princípios básicos da política externa brasileira: o repúdio ao uso da força para resolver conflitos e mudar fronteiras; e a consequente defesa de uma solução negociada política e diplomaticamente. Uma simples declaração ou reafirmação de princípios.

A maior omissão é na Venezuela, onde a crise se agrava. Ao votar contra a proposta do Panamá para discutir a crise venezuelana na Organização dos Estados Americanos (OEA), o Brasil reafirmou sua posição resolver as crises da América Latina entre os latino-americanos.

Até aí, tudo bem. Mas a nota da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) limitou-se a apoiar o presidente Nicolás Maduro, avalizando a violenta repressão policial contra as manifestações de protesto.

Aparentemente o Brasil e os aliados de Maduro apostaram no esvaziamento das manifestações de protesto. Com inflação de 56%, desabastecimento de 28% das mercadorias, altas taxas de criminalidade e a violência das milícias chavistas e de grupos da oposição, isso não vai acontecer, só com um grande diálogo nacional.

Como não há o menor clima para o diálogo na Venezuela, uma intermediação externa é fundamental para evitar o agravamento da crise. Ela não vai se resolver sozinha. Se a presidente Dilma Rousseff não tem espírito, poderia mandar o ex-presidente Lula como enviado especial. 

Mesmo tendo apoiado a candidatura de Maduro, por ser de esquerda, Lula é um dos poucos líderes com autoridade e prestígio dentro do regime bolivarista para dizer algumas verdades a Maduro e ao presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, se tiver peito e coragem para advertir que a revolução está em risco e a melhor saída é a democracia.

Um acordo aceitável pelos dois lados na Venezuela exige o fim das políticas econômicas fracassadas antiliberais, anticapitalistas e antimercado do "socialismo do século 21", o fim da censura e o desarmamento das milícias chavistas em troca de um compromisso da oposição de manter os programas sociais, as misiones de Chávez, o resultado positivo da revolução bolivarista, e de respeitar os prazos constitucionais para convocar um referendo revogando o mandato de Maduro.

O maior obstáculo a um acordo é a militarização do regime sob a influência de Cuba. Seria o fim da revolução. Mas é melhor do que a guerra civil.

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