A dois dias do referendo sobre a região da Crimeia convocado a ponta de Kalachnikov, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, fizeram mais um encontro inútil em Londres, durante seis horas, sem chegar a nenhuma posição comum.
Com o cinismo e a cara-de-pau habituais, o chanceler da Rússia afirmou que o presidente Vladimir Putin ainda não tomou uma decisão sobre a anexação da Crimeia, preferindo esperar pela consulta popular como se esta fosse legítima.
O referendo foi convocado por um governo pró-russo da Crimeia formado numa votação sem o quorum mínimo depois que o parlamento regional foi tomado por homens armados não identificados, mas que todo o mundo, menos Putin e a cúpula do Kremlin, sabe que são russos.
A Rússia alega que os cidadãos de origem russa estão sendo ameaçados por um governo ilegítimo formado depois de um "golpe" contra o presidente Viktor Yanukovich, que na verdade fugiu da Ucrânia para não ser preso depois de mandar a polícia de choque atacar manifestantes na Praça da Independência, em Kiev. É uma alegação tão falsa quanto a de Hitler em relação a alemães para justificar invasões antes da Segunda Guerra Mundial.
Os Estados Unidos e a União Europeia condenam o referendo como ilegal à luz do direito internacional. A Constituição da Ucrânia exige que consultas populares sobre alterações de fronteiras sejam votadas pelo país inteiro.
Em represália, a UE e os EUA ameaçam impor sanções à Rússia já na segunda-feira.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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