sexta-feira, 21 de março de 2014

Nate Silver lança Manifesto do Jornalismo de Dados

Depois de prever com sucesso o resultado da eleição presidencial de 2012 nos Estados Unidos em todos os estados com base num modelo matemático, o matemático Nate Silver defende a ideia de um jornalismo de dados, em que a análise estatística se torne um instrumento fundamental da reportagem.

Enquanto alguns comentaristas, sobretudo conservadores, previam a vitória do republicano Mitt Romney, Silver cravou a vitória de Barack Obama, batendo, na prática, todas as especulações do jornalismo tradicional, inclusive nos estados onde a eleição parecia indefinida. A mesma metodologia, entende o estatístico, pode ser usada na cobertura de economia, esportes, ciência e da vida cotidiana.

Nesta semana, Silver lançou o Manifesto do Jornalismo de Dados em seu sítio fivethirtyeight.com (538 é o número de votos do Colégio Eleitoral que elege o presidente americano). Ele observa que "a maioria dos alunos de jornalismo e comunicação social tem nota acima da média em redação e intrerpretação de textos, mas fica abaixo da média em matemática". Quem é bom em matemática geralmente vai para engenharia, ciências exatas, economia e finanças, outras carreiras.

É um problema, raciocina o matemático. Mais de 80% dos americanos se informa através do jornalismo, enquanto apenas 25% estão matriculados em algum curso regular. A qualidade da informação jornalística é importante.

Silver acredita que "o grande volume de dados ainda não se traduziu em ganhos generalizados nas condições econômicas, no bem-estar social e nem mesmo no crescimento tecnológico". Não é um problema só do jornalismo, mas também da ciência, do governo, da academia e do setor privado.

Na sua opinião, o jornalismo cria uma oportunidade imediata. O primeiro passo da investigação jornalística é coletar dados, indícios e provas. No jornalismo tradicional, isso combina uma série de entrevistas, leitura e análise de documentos, além da observação pessoal do repórter. No jornalismo de dados, também haveria coleta de dados via Internet, pesquisas de opinião e experiências práticas.

A segunda etapa é a organização das informações a serem apresentadas a leitores, ouvintes e telespectadores. Normalmente os jornalistas usam o estilo chamado de pirâmide invertida, do mais importante para o menos importante, e às vezes o estilo cronológico para ser mais didático ao reconstruir uma história, mas têm toda a liberdade para para escreverem como quiserem. O jornalismo de dados acrescentaria gráficos e tabelas para ajudar na análise quantitativa.

Na terceira etapa, o jornalista tenta explicar e interpretar os fatos que são notícia. Silver argumenta que os jornalistas tradicionais são muito bons para apurar notícias e contar histórias, mas suas explanações muitas vezes são baseados em instintos ou achismo sem base nos dados e, portanto, na realidade.

Uma interpretação só sobrevive ao teste da objetividade se puder apresentar relações de causa e efeito comprováveis além da subjetividade. Caso contrário, o jornalismo opinativo vira mero opinionismo. As previsões viram jogos de palavras que exigem pouco esforço e não são cobradas por editores e pela opinião pública.

O maior defeito do jornalismo, adverte o estatístico, é saltar à frente dos fatos e chegar a grandes conclusões baseadas em indícios frágeis. Ele admite que raramente dará furos. Sacrifica a velocidade em nome da precisão.

Por tudo isso, argumenta Silver, uma abordagem mais sustentada por dados ajuda no que ele chama de quarta etapa da produção jornalística, chegar a generalizações e conclusões. A generalização é um aspecto central da ciência: uma hipótese pode ser testada por experiências e previsões.

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