Por 13 a 1, o Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou a intervenção militar da Rússia na Ucrânia e o referendo marcado para amanhã para anexar a região autônoma da Crimeia à Federação Russa, mas a resolução foi rejeitada por causa do veto russo. A China se absteve, deixando de apoiar Moscou numa questão com sérias implicações para o regime comunista chinês.
A abstenção chinesa era esperada. Várias unidades administrativas da República Popular da China, como as regiões supostamente autônomas do Tibete e de Xinjiang, gostariam de se separar do governo central de Beijim. O mesmo vale para Taiwan, a ilha que os comunistas consideram uma província rebelde desde a vitória da revolução de Mao Tsé-tung, em 1º de outubro de 1949.
Aparentemente, o homem-forte do Kremlin, Vladimir Putin, não está
preocupado com o risco de que unidades da federação russa, como as
repúblicas de maioria muçulmana da Chechênia e do Daguestão, decidam convocar referendos
sobre sua independência de Moscou.
Na sua exposição final ao Conselho de Segurança, o embaixador Vitali Churkin voltou a insistir no argumento da Rússia de que os ucranianos de origem russa estão sob a ameaça desde o que chamou de "golpe de Estado de 24 de fevereiro". Ele afirmou que a Rússia vem recebendo inúmeros apelos de cidadãos do
Leste da Ucrânia pedindo ajuda contra o novo governo de Kiev e que o povo da Crimeia tem o direito de decidir seu próprio destino. Ignorou totalmente a intervenção militar russa.
Se a Rússia tentar tomar todo o Leste da Ucrânia, é possível que o governo ucraniano reaja militarmente, o que evitou até agora para não entrar em guerra com a Rússia.
Churkin lembrou que a Crimeia foi cedida à então república soviética da Ucrânia pela república soviética da Rússia "ilegalmente" em 1954, o que na época não teve importância porque ambas faziam parte da União Soviética.
Logo após a votação, a embaixadora dos Estados Unidos, Samantha Power, denunciou como "mentira" a alegação russa de que a população de origem russa esteja sendo perseguida desde a queda do presidente Viktor Yanukovich depois de meses de protesto contra a decisão de abandonar um acordo de associação com a União Europeia.
Os EUA e a União Europeia consideram o referendo ilegal à luz do direito internacional porque a Constituição da Ucrânia exige que referendos que mudam as fronteiras nacionais tenham votação no país inteiro.
Hoje duas pessoas morreram em Kharkiv, no Leste da Ucrânia, quando extremistas do grupo Setor de Direita reagiram a uma tentativa de invasão de sua sede. Ontem, houve duas mortes na cidade de Donetsk.
O primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseni Yatseniuk, acusou a Rússia de fomentar a violência para justificar sua intervenção militar.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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