Apesar do mau tempo e do apoio do primeiro-ministro Mark Rutte, os holandeses rejeitaram ontem em referendo um acordo de associação da União Europeia com a ex-república soviética da Ucrânia. É um presente para as ambições imperiais do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e para os eurocéticos britânicos que querem tirar o Reino Unido da UE.
O governo da Holanda prometeu acatar o resultado das urnas se a participação passasse de 30% do eleitorado, o que foi conseguido, mesmo com o vento, a chuva e o frio de um inverno atrasado. Cerca de 61% votaram não e 38% votaram sim.
A consulta popular foi iniciativa de uma campanha na Internet que conseguiu levantar o número de 300 mil assinaturas exigido pela lei holandesa para convocar o referendo.
É um golpe na política de associação com a Ucrânia, que provocou uma revolução na ex-república soviética, na queda do presidente Viktor Yanukovich e na intervenção militar da Rússia para anexar a península da Crimeia e fomentar uma rebelião de russos étnicos no Leste do país.
Durante a guerra civil na Ucrânia, um Boeing 777 da companhia aérea Malaysia Airlines foi abatido em território ucraniano, provavelmente pelos rebeldes apoiados pela Rússia, quando fazia o voo MH17 (Amsterdã-Kuala Lumpur) com 298 pessoas a bordo, sendo 193 holandeses.
O referendo holandês foi mais uma rebelião cidadã contra o poder da União Europeia, que na verdade deriva dos Estados nacionais, e portanto também contra o governo Mark Rutte.
Como em ocasiões anteriores, quando um país relativamente pequeno rejeita algum acordo, a UE deve propor a mesma medida de outra forma. Não vai abandonar o acordo de associação com a Ucrânia por causa da Holanda.
É mais um sintoma da crise de governabilidade da UE. O argumento de que será mais um país pobre a entrar para o mercado comum, provocando uma nova onda de migração por razões econômicas, é fraco. Serão necessários anos para a Ucrânia se tornar membro pleno do bloco europeu.
A rejeição do acordo interessa ao projeto russo de manter o controle sobre as ex-repúblicas soviéticas como esfera de influência. Mas nem econômica nem politicamente a Rússia tem muito a oferecer à Ucrânia. A Europa é muito mais atraente como mercado comum e como estilo de vida.
Essa vitória do não anima os eurocéticos britânicos, que pretendem vencer o referendo convocado para 23 de junho para decidir se o Reino Unido vai permanecer ou não na UE.
No momento, a média das pesquisas indica 51% a favor de ficar na UE e 49% querem sair. Se o Reino Unido sair do projeto de integração da Europa, é provável que a Escócia convoque novo referendo sobre a independência para deixar a Grã-Bretanha e voltar à UE.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Holanda rejeita em referendo acordo UE-Ucrânia
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