A Arábia Saudita anunciou hoje um ambicioso plano de reformas econômicas para diversificar a economia e superar a dependência do petróleo. O regime monárquico absolutista pretende vender até 5% da empresa estatal de petróleo Saudi Aramco e criar o maior fundo soberano do mundo, de US$ 2 trilhões.
"Desenvolvemos um verdadeiro vício em petróleo e isso transtornou o desenvolvimento de vários setores nos últimos anos", declarou em entrevista à televisão Al Arabiya, de propriedade da família real, o segundo príncipe herdeiro, Mohamed ben Salman, filho do sultão Salman ben Abdul Aziz al Saud. Com apenas 31 anos, é o homem-forte do reino desde a ascensão do pai ao trono em janeiro de 2015.
É a mesma fórmula usada para Noruega, cujo fundo tem hoje US$ 866 bilhões. A partir de 2020, o fundo saudita deve gerar uma renda equivalente aos ganhos com petróleo.
"A Aramco é tão grande que, se vendermos 1%, já será a maior oferta inicial de ações do mundo", acrescentou o segundo príncipe herdeiro saudita. É a maior companhia de petróleo do mundo, com capacidade de produção acima de 12 milhões de barris por dia, duas vezes mais do que qualquer outra empresa, e a quarta maior em refino.
Hoje a economia saudita depende em 80%. Como os preços caíram cerca de 70%, de US$ 110 em junho de 2014 para menor de US$ 30 no início deste ano, e hoje estão pouco acima de US$ 40, o reino enfrenta dificuldades financeiras.
Na prática, a Arábia Saudita foi a grande articuladora da queda nos preços do petróleo junto com as outras monarquias petroleiras do Golfo Pérsico. O objetivo era tirar do mercado produtores de alto custo como o óleo de xisto dos Estados Unidos, que voltaram a ser os maiores produtores mundiais de combustíveis líquidos. O déficit orçamento de 2015 ficou em US$ 100 bilhões
O príncipe Mohamed ben Salman negou que sua Visão Saudita seja consequência da queda nos preços do petróleo: "Seria posta em prática qualquer que fosse o preço. A Visão não requer grandes gastos e, sim, reestruturação."
Nos anos 1980s, no auge da segunda crise do petróleo e da Organização dos Países Exportadores do Petróleo (OPEP), o todo-poderoso ministro do Petróleo da Arábia Saudita, xeque Ahmed Zaki Yamani, advertiu: "A Idade da Pedra não acabou por falta de pedras. A era do petróleo vai acabar antes do fim do petróleo."
Agora, o segundo príncipe herdeiro pensa claramente nesta possibilidade: "A partir de 2020, se acaba o petróleo, podemos sobreviver. Precisamos do petróleo, mas creio que a partir de 2020 poderemos viver sem petróleo."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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