Dois extremistas foram mortos ontem à noite em Garland, perto de Dallas, no Texas, quando se preparavam para atacar um evento em defesa da liberdade de expressão que oferecia um prêmio para a melhor caricatura do profeta Maomé, uma blasfêmia intolerável para islamitas radicais. Esse tipo de ataque, de pequenas células terroristas, é uma ameaça constante contra a Europa e os Estados Unidos, mas tem impacto limitado.
O FBI, a polícia federal dos EUA, declarou que os dois terroristas mortos saíram de Phoenix, no estado do Arizona. Um deles, Elton Simpson, convertido ao islamismo, era conhecido. Havia sido preso em março de 2011, quando se preparava para aderir à milícia jihadista somaliana Al Chababe, mas só foi condenado por fazer declarações falsas ao FBI. O outro foi identificado mais tarde como Nadir Soofi.
Em 2011, Simpson foi preso por dizer a um informante do FBI em conversa gravada que ia para a África do Sul participar de um evento religioso. De lá, seguiria para a Somália para lutar ao lado d'al Chababe.
Antes do frustrado ataque de ontem, Simpson publicou mensagem no Twitter jurando lealdade do Estado Islâmico.
A onda de protestos contra a publicação de charges e caricaturas de Maomé na imprensa ocidental tem quase dez anos. Em setembro de 2005, o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou as primeiras.
Sob a incitação de clérigos muçulmanos, em fevereiro de 2006, as embaixadas e consulados da Dinamarca e da Noruega foram atacadas no Afeganistão, no Paquistão, na Síria, no Líbano, no Iraque, na Nigéria e na Indonésia.
Em setembro de 2007, Abu Omar al-Baghdadi, então líder do Estado Islâmico do Iraque, ofereceu uma recompensa de US$ 100 mil pelo cartunista sueco Las Vilks, que desenhara Maomé como um cachorro. Há anos, a rede terrorista Al Caeda e outros grupos jihadistas divulgam listas na Internet de inimigos a serem eliminados.
O jornal satírico francês Charlie Hebdo também publicou imagens do profeta consideradas uma profanação da religião muçulmana. Sua sede foi brutalmente atacada em Paris em 7 de janeiro de 2015, quando 12 pessoas foram mortas.
Há dois meses e meio, em 15 de fevereiro deste ano, um evento sobre Arte, Blasfêmia e Liberdade de Expressão de que Lars Vilks participararia em Copenhague, na Dinamarca, foi atacado. Um diretor de cinema foi morto e três policiais saíram feridos. Vilks foi para a clandestinidade.
A ação terrorista frustrada ontem nos EUA é semelhante à de Copenhague. Nos dois casos, os terroristas não pareciam bem treinados. Parecem exemplos típicos do "inimigo interno", jovens radicalizados ideologicamente. Ontem, eles tinham fuzis semiautomáticos tipo AK-47 que podem ser comprados legalmente no mercado americano.
Se Simpson foi impedido de ir para a Somália, seu caso também é semelhante ao de Michael Zehaf Bibeau. Ele matou um soldado no monumento aos canadenses mortos em guerra e invadiu o Congresso do Canadá, em Ottawa, em 23 de setembro de 2014, depois de lhe ter sido negado um passaporte para viajar à Síria, onde pretendia se juntar ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário