Vários pontos de discordância começam a aparecer em torno do acordo preliminar para desarmar do programa nuclear do Irã, a ser concluído até 30 de junho de 2015.
O Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, e o presidente Hassan Rouhani insistem em que todas as sanções econômicas devem ser suspensas de uma vez só, e não gradualmente como anunciaram os Estados Unidos. E o alto comando rejeita inspeções em instalações militares porque não haveria relação entre o programa nuclear e as Forças Armadas.
"Não vamos assinar nenhum acordo que não acabe com todas as sanções internacionais no primeiro dia de implementação", declarou o presidente iraniano, considerado um aiatolá moderado com interesse em melhorar as relações com o Ocidente
O Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, advertiu que "não há garantia" de chegar a um acordo definitivo, noticiou a televisão pública britânica BBC.
Mais preocupante para as potências ocidentais é a declaração do vice-ministro da Defesa para assuntos legais e parlamentares, general Reza Talaei Nik, de que os altos comandantes das Forças Armadas não vão permitir inspeções em instalações militares porque elas não teriam qualquer ligação com o programa nuclear, que seria exclusivamente para fins pacíficos.
Se outros países acreditassem nisso, não haveria necessidade de negociar. Mas o general Seyed Massoud Jazayeri considerou este ponto, com potencial para derrubar todo o acordo, inegociável.
Há uma grande suspeição entre os EUA e o Irã por causa dos conflitos históricos entre os dois países, assim como entre o Irã e os aliados americanos no Oriente Médio, seja Israel ou sejam os países árabes. E os dois lados têm de convencer seus radicais. Nem a linha-dura iraniana nem a oposição republicana nos EUA vê o acordo com bons olhos.
A proposta foi acertada em princípio pelo Irã, as cinco potências com direito de veto nas Nações Unidas (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha. Prevê a redução de 10 mil para 300 quilos do estoque de urânio enriquecido do Irã, a dilução do urânio enriquecido acima de 3,67%, a redução do total de centrífugas de 19 mil para 6 mil, a concentração do enriquecimento numa única central nuclear, em Natanz, o redesenho de um reator de água pesada e uma regime de inspeções rigoroso a cargo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
No Twitter, o aiatolá Khamenei reclamou que, "horas depois das negociações, os americanos apresentaram uma folha de papel com a maioria dos pontos contrários ao que foi acertado. Eles sempre trapaceiam e quebram promessas."
Em seu sítio na Internet, o Supremo Líder acrescentou: "Nunca foi otimista quanto a negociar com os EUA. Embora não fosse otimista, concordei com esta negociação e apoiei os negociadores."
O Supremo Líder está em cima do muro, esperando o resultado das negociações até o fim de junho para definir sua posição, enquanto a agressividade de Rouhani aparentemente visa a mobilizar o apoio interno às negociações lançadas depois de um contato direto com o presidente Obama, em 2013.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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