Enquanto o mundo foca suas atenções na Grécia, uma bolha especulativa está estourando nas bolsas de valores da China, apesar de uma série de medidas recentes como um corte nas taxas básicas de juros do banco central, a redução do percentual que os bancos devem manter como reservas e uma investigação sobre possíveis ações fraudulentas.
Desde o pico em 12 de junho de 2015, a Bolsa de Xangai caiu quase 30%. As ações chinesas perderam US$ 3 trilhões, oito vezes mais do que a dívida publica grega, estimada hoje em 340 bilhões de euros (US$ 373 bilhões).
O índice CSI300, que mede o desempenho das principais ações cotadas nas bolsa de Xangai e de Xenzen, caiu hoje 1,3%.
Na sexta-feira, numa tentativa de restaurar a confiança dos investidores, o órgão regulador anunciou um inquérito sobre possíveis manipulações do mercado. Deve manter nas próximas semanas o esforço para evitar um colapso nos preços das ações.
Com a desaceleração da economia e a demanda interna relativamente fraca, aparentemente os chineses aproveitaram a baixa das taxas de juros para investir na bolsa. O objetivo do governo é fortalecer o mercado interno para que seja capaz de sustentar o crescimento nacional nestes anos de crise em que a demanda externa enfraqueceu, prejudicando as exportações.
A partir de 1978, a abertura econômica promovida por Deng Xiaoping criou uma máquina de exportações que elevou a China a segunda maior economia do mundo em termos nominais e maior do que a americana pelo critério de paridade do poder de compra do Banco Mundial.
Para sustentar esse modelo econômico, o governo chinês manteve os salários baixos para manter o baixo custo e a competitividade das exportações, e os juros baixos para garantir crédito barato para as empresas. O desafio agora é estimular o consumo interno sem minar o modelo baseado em investimentos dirigidos pelo governo e o baixo custo das exportações.
Ao mesmo tempo, o regime precisava criar instrumentos de poupança para manter o poder de compra diante da inflação. Fez duas opções: o mercado imobiliário e a bolsa de valores. Nos últimos 20 anos, as aplicações em imóveis foram preferidas pela maioria dos poupadores chineses.
Enquanto os preços subiam, e aumentaram consistentemente nas últimas duas décadas, o mercado imobiliário oferecia oportunidades sem paralelo, especialmente depois da crise de 2008-9, que afetou o setor exportador. Em 2009, a maioria dos chineses via as bolsas de valores como cassinos.
Mas, nos últimos anos, o setor habitacional entrou em declínio. Com a queda na lucratividade e a desaceleração da economia, muitos investidores correram para a bolsa, inflando a bolha especulativa.
A transição para uma economia sustentada pelo consumo interno é o maior desafio para o país que mais cresceu no mundo nos últimos 35 anos, no maior processo de desenvolvimento da história.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
terça-feira, 7 de julho de 2015
Bolsas da China perderam US$ 3 trilhões em semanas
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