Nas suas primeiras declarações desde a intervenção militar da Rússia contra uma revolução na Ucrânia, o presidente Vladimir Putin afirmou hoje que houve um "golpe inconstitucional" no país e se reservou o direito de invadir a ex-república soviética sob o pretexto de proteger as populações de origem russa.
Os Estados Unidos e a Europa acusam a Rússia de violar a Carta das Nações Unidas e o Memorando de Budapeste, de 1994, em que a Ucrânia concordou em entregar todas as armas nucleares herdadas da União Soviética, que passaram ao controle do Kremlin, em troca de garantias de segurança. Ontem, o Departamento da Defesa dos EUA suspendeu a cooperação com a Rússia.
Putin alegou que os russos na Ucrânia são alvos potenciais de terroristas, tentando justificar a intervenção por razões humanitárias a pedido dos próprios ucranianos. O homem-forte do Kremlin negou que os paramilitares que tomaram aeroportos, postos de fronteiras e bases militares ucranianas sejam russos. Os soldados usam uniformes militares sem identificação, mas possuem tanques e blindados, ou seja, não surgiram do nada.
A televisão estatal russa divulga notícias alarmistas como se houvesse uma fuga em massa de ucranianos. Os números vão de 140 mil a 650 mil. Correspondentes ocidentais que estiveram na fronteira encontraram movimento normal e guardas de fronteira sonolentos.
Para acalmar os ânimos, o presidente russo negou que tenha intenções de anexar a região da Crimeia, mas não descartou o uso da força.
Até momento, a União Europeia, dependente das exportações de gás da Rússia, equivalentes a 30% do consumo, não adotou uma postura tão afirmativa quanto os EUA, que ameaçam com sanções políticas e econômicas capazes de isolar a Rússia.
Irritado, o presidente Barack Obama disse que Putin "não engana ninguém" com seu discurso sobre a Ucrânia.
Ao chegar hoje a Kiev, o secretário de Estado americano, John Kerry, insistiu em que a diplomacia é a alternativa ao uso da força para "a Rússia defender seus interesses na Ucrânia". Os EUA ofereceram um empréstimo de emergência de US$ 1 bilhão ao novo governo ucraniano.
Kerry vai se encontrar em Paris com o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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