Os grandes exemplos de crescimento acelerado sustentado por longo prazo, que não é o mesmo que sustentável no sentido ecológico, estão na Ásia, com destaque para a China e a Índia, especialmente a China, que teve uma expansão de 10,7% em 2006, a maior em 11 anos. Há quatro anos, o país mais populoso do mundo cresce acima de 10%.
Em recente artigo na coluna ‘Riqueza das Nações’, no jornal americano The Wall Street Journal, Michael Spence, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 e professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, pergunta-se Por Que a China Cresce Tão Depressa?
Spence observa que o crescimento acelerado sustentável de países em desenvolvimento é um fenômeno pós-1945. Por acelerado, entende pelo menos 7% ao ano e sustentável por ao menos 25 anos.
Uma taxa de crescimento de 7% ao ano significa que a renda nacional dobra a cada década, trazendo profundas mudanças na renda e na riqueza dos cidadãos. Atualmente, com taxas de crescimento superiores a 10% ao ano nos últimos quatro anos, a China tira 180 milhões de pessoas da pobreza a cada ano.
Há 11 países com estes níveis de crescimento acelerado sustentável, nenhum latino-americano. Oito são asiáticos: Botsuana, China, Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong, Indonésia, Malásia, Malta, Omã, Tailândia e Taiwan. Observe-se que está toda a Grande China, não apenas a China, Hong Kong e Taiwan mas também Cingapura, Indonésia, Malásia e Tailândia, onde há comunidades chinesas economicamente importantes, especialmente no setor comercial.
O economista ressalva não poder afirmar que todos os países possam atingir taxas de crescimento elevadas por longos períodos. Mas é evidente que elas proporcionam enorme bem-estar e libertam as forças criativas de uma sociedade. Convém analisar as causas do crescimento asiático com que o Brasil sonha.
“O crescimento”, ensina Spence, “vem de três fontes:
1. investimento;
2. aplicação de tecnologia ou conhecimento prático; e
3. aumento da parcela da população empregada produtivamente.”
A última é mais importante nas etapas iniciais do crescimento acelerado, quando os trabalhadores são atraídos para setores mais produtivos.
“Em todos os casos, é fundamental uma economia de mercado que funcione, com preços, incentivos, descentralização e regras de propriedade que estimulem o investimento”, afirma o Nobel de Economia. “Todas as tentativas de driblar estas condições necessárias com planejamento central levaram a grandes erros na alocação de recursos e ao fracasso.”
O crescimento acelerado sustentável exige também altas taxas de poupança e de investimento, uma poupança de pelo menos 25% do produto interno bruto. Na China, está entre 35% e 45%.
No Brasil, como o Estado é deficitário e tem uma dívida elevada, boa parte da poupança privada é desviada para cobrir o rombo nas contas públicas, reduzindo o capital disponível para investimentos. Talvez este seja hoje o maior entrave a um crescimento acelerado sustentável. O Programa de Aceleração do Crescimento do governo Lula não ataca o problema.
Com a crise nas finanças públicas, o Estado brasileiro não tem recursos para fazer os investimentos necessários em saúde, educação e infra-estrutura, que Spence considera cruciais para aumentar a taxa de retorno dos investimentos privados. O objetivo é atrair mais investimentos privados, que serão no final o combustível do crescimento.
A agilidade, a capacidade de inovação e de adaptação à “destruição criativa” do capitalismo, na expressão de Josef Schumpeter, também são fundamentais. O aumento da produtividade em níveis capazes de levar a taxas de crescimento chinesas não acontece simplesmente fazendo a mesma coisa de maneira um pouco mais eficiente.
É preciso revolucionar e modernizar tecnologicamente todo o aparelho produtivo.
Quando as reformas começaram na China, a imensa maioria de sua população de mais de 1 bilhão vivia no campo. Houve um desenvolvimento extraordinário da indústria que provocou grandes migrações.
O aumento da produtividade permitiu um crescimento geral da economia chinesa. Mas as diferenças de renda se acentuaram muito, na medida que os trabalhadores dos setores mais dinâmicos da economia passaram a receber salários muito melhores.
Embora seja uma conseqüência natural do crescimento, simplesmente porque uns têm mais sucesso do que outros, a excessiva desigualdade de renda e de riqueza cria problemas sociais e políticos. Exige investimentos públicos em saúde, educação, previdência e assistência sociais, e infra-estrutura (água, energia e transportes) como políticas compensatórias. Coloca em xeque o modelo econômico.
Para a América Latina, em particular, o grande desafio é promover o crescimento com inclusão social, o que exige investimentos públicos que os Estados só poderão fazer com economias crescendo mais.
Mas o aspecto mais importante, na opinião de Michael Spence, é saber aproveitar as oportunidades oferecidas pela economia internacional: “Todos os casos de crescimento acelerado sustentável incluem um setor exportador como motor do crescimento e um crescimento da parcela do PIB associada ao comércio exterior.
"Não há exemplos de crescimento acelerado sustentável no pós-guerra sem integração na economia global. A sistemática redução de barreiras ao crescimento e ao investimento nos últimos 55 anos, e a queda dramática nos custos das tecnologias de transporte, informação e de comunicações, combinaram-se para aumentar a integração. É o efeito combinado destas tendências que faz da economia global um estímulo cada vez mais poderoso para o crescimento.”
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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Um comentário:
Extremamente aproveitoso as informações a cima.
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